Ativista do Alemão critica falas de seu Jorge

Leonardo Souza, 28, integrante do coletivo Ocupa Alemão, escreveu artigo exclusivo para o Favela 247 criticando fala recente de Seu Jorge publicada no jornal inglês The Guardian e divulgada pelo UOL. Seu Jorge afirma na entrevista “Eu nunca toquei em favelas porque trabalhei duro para escapar disso”, além de dizer coisas negativas na Baixada Fluminense e acusar o funk de machismo. “Lamentavelmente o cantor quando dá esse tipo de declaração está apenas reforçando o senso comum e a criminalização das periferias e favelas”, disse

Papo reto pro Seu jorge : Quem não ajuda , que não atrapalhe

Um trecho de uma matéria publicada recentemente pelo jornal inglês The Guardian e divulgada pelo UOL com o cantor seu Jorge gerou certa polêmica nas redes sociais, especialmente no trecho em que o cantor diz que não se apresenta em favelas porque “lutou muito para sair dessa vida”, em suas próprias palavras, e que também não quer ter o menor contato com traficantes.

Fica bem claro que o UOL quis fomentar a polêmica em sua tradução mas, mesmo assim, tiveram outras declarações tão ou mais polêmicas em toda a matéria, como por exemplo numa passagem em que Seu Jorge diz que a Baixada Fluminense tem apenas violência, drogas , mortes, etc.

Meu ponto principal é debater o papel dessas declarações do cantor, levando em consideração que ele saiu de uma favela depois da morte de seu irmão, e também do papel que a mídia corporativa tem em fabricar polêmica.

Lamentavelmente o cantor quando dá esse tipo de declaração está apenas reforçando o senso comum e a criminalização das periferias e favelas. Esse papel já tem muita gente para fazer, e o contraponto que poderia ser feito pelo cantor – como falar desses espaços como espaços de resistência cultural negra , afinal ele mesmo veio desses espaços –, não é feito.

Por Leonardo Do Brasil247

Na entrevista Seu Jorge acaba reforçando a distorcida meritocracia liberal, como se para obtermos algum avanço na nossa brutal realidade fosse necessário apenas esse esforço individual. Tem ainda um trecho em que o cantor, ao ser perguntado sobre o funk carioca, diz que “o funk coloca a mulher pra baixo ” e que a ideia dele é colocar a mulher “por cima” , seja lá o que isso signifique. Mais uma vez seu Jorge dá uma força para a criminalização de algo proveniente ds favelas, uma vez que basta analisar melhor todo, repit , todo o cancioneiro nacional pra se constatar o machismo e sexismo presente em letras de medalhões , reis , súditos e etc da MPB , do rock, do baião. Há inclusive uma letra sua em que afirma “se fosse mulher feia tava tudo certo, mulher bonita mexe com meu coração”. Ele opta por fazer essa afirmação apenas frisando um estilo musical, que não por coincidência é preto e periférico.

Seu jorge não é obrigado a ser militante, ativista, altruísta ou algo do tipo. Pode ficar quietinho, de boa, morando em Los Angeles. O papo reto é: quem não ajuda, que não atrapalhe.

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