Vice do banco central alemão deve perder encargos por declarações xenófobas

Fonte: DW.Word.DE –

“Incapazes de integração”, só prestando para trabalhar em quitandas e fazer “menininhas de véu na cabeça”. Assim Thilo Sarrazin caracterizou turcos e árabes de Berlim. Entrevista infeliz pode custar-lhe parte do cargo.

Devido a declarações públicas de cunho xenófobo, o vice-presidente do Deutsche Bundesbank (banco central alemão), Thilo Sarrazin, poderá se destituído de parte de seus encargos, divulgou a revista Focus neste sábado (10/10). O periódico baseou-se em documentos confidenciais relativos a reunião da diretoria da instituição a se realizar na próxima terça-feira.

 

Numa entrevista à revista de cultura Lettre International, Sarrazin investiu duramente contra os estrangeiros da Alemanha, sobretudo os turcos e árabes. Referindo-se ao maior grupo de imigrantes da capital Berlim, o vice do banco central alemão declarou, por exemplo, que grande parte deles não seria “nem disposto, nem capaz de integração”, não desempenhando “nenhuma função produtiva, a não ser no comércio de frutas e verduras”.

 

Kenan Kolat, presidente da Comunidade Turca da Alemanha, mostrou-se chocado. “Somos mais críticos do que muitos pensam em relação a nosso próprio povo. Mas com tais declarações não se alcança a população, o que se alcança são estigmatizações. Não se atinge nem mesmo aqueles a que ele tantas vezes se refere, mas sim a um certo grupo preconceituoso, que só vê seus preconceitos reforçados por essas afirmativas.”


Bons e maus imigrantes

 

A entrevista em questão, intitulada “Classe em vez de massa”, não provocou indignação apenas entre os integrantes dos grupos atacados. O secretário-geral do Conselho Central dos Judeus da Alemanha, Stephan Kramer, manifestou-se: “Tenho a impressão de que, com sua ideologia, o Sr. Sarrazin presta grande honra a Göring, Goebbels e Hitler” – uma referência a três dos protagonistas do regime nazista alemão.

 

Ao mesmo tempo em que classificou 70% da população turca de Berlim e 90% da árabe como latentemente agressiva, o ex-secretário de Finanças de Berlim permitiu-se gabar o QI dos judeus do Leste Europeu. Porém Kramer não se deixa iludir: “O que ele disse é pérfido, infame, é incitação popular, sim, é hostilidade contra os muçulmanos”.

Para o secretário-geral do Conselho dos Judeus, Sarrazin procura jogar os diferentes grupos uns contra os outros. “De um lado há os bons vietnamitas, os bons chineses, os bons indianos, industriosos e dispostos a se integrar. Do outro, estão os dependentes do seguro social, na maioria, é claro, alemães, mães solteiras, iugoslavos, turcos, árabes, que só produzem cada vez mais ‘menininhas de véu na cabeça’. Quer dizer: ele decide quem são os bons e quem são os maus imigrantes.”


Convite à renúncia de cargo

Kolat exige que o executivo seja exonerado imediatamente de todos os cargos públicos: a comunidade turca apoia de forma integral o inquérito por incitação popular aberto pela promotoria pública, afirmou. “O lugar dele é diante do tribunal, onde deve responder por suas palavras de instigação ao ódio.”

No início de outubro, numa iniciativa pouco usual, o Bundesbank se distanciara de forma demonstrativa das declarações de seu vice-presidente. O presidente da instituição, Axel Weber, chegara a sugerir indiretamente a Sarrazin que se demitisse do cargo. Em consequência, o político social-democrata natural da Turíngia desculpou-se publicamente pelo tom empregado na entrevista, porém se recusou a renunciar.

De acordo com a Focus, agora Weber pretende retirar das mãos de Sarrazin os setores de circulação de dinheiro em espécie e de controle de risco. O semanário Der Spiegel acrescenta que, ao estudar a situação, o banco constatou ser juridicamente quase impossível demitir o vice-presidente com base em suas afirmativas provocadoras.

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