Carrefour indeniza vítima de racismo

Por: Vitor Hugo Brandalise

Acusado de roubar o próprio carro, cliente foi espancado por vigias da rede em Osasco

 

 

 

Januário Alves de Santana, vigilante negro espancado por seguranças no estacionamento do Carrefour de Osasco, recebeu indenização da empresa. Ele foi acusado de roubar o próprio carro. Ocorrido há sete meses, o episódio de racismo virou caso de polícia e foi apontado por entidades de defesa dos Direitos Humanos como exemplo de intolerância contra negros no País. O contrato do acordo extrajudicial proíbe a divulgação do valor.

 

O comunicado conjunto da indenização, assinado entre Carrefour e Santana, será divulgado hoje pelo advogado de defesa do vigilante. “É uma forma de mostrar que, com diálogo, as duas partes podem sair satisfeitas. A empresa assumiu seu papel e resolveu o problema da melhor forma possível”, avaliou o advogado de defesa, Dojival Vieira.

 

“O que não significa que se trata de um “final feliz”. Entendemos que um flagrante tão cruel da discriminação racial no País, na verdade, nunca deveria ter ocorrido”, lamentou.

 

A divulgação da indenização representa o fim da negociação com a rede de supermercados, que começou em setembro. “A empresa demonstrou disposição em resolver o caso rapidamente”, disse o advogado.

 

Santana, de 39 anos, foi espancado por seguranças terceirizados do Carrefour em agosto do ano passado, confundido com ladrão após estacionar sua EcoSport prata ? pagava em 72 prestações de R$ 789 ? na loja.

 

Além do pedido formal de desculpas, o Carrefour demitiu funcionários envolvidos no caso e rompeu o contrato com a Empresa Nacional de Segurança Ltda., empregadora dos acusados de terem espancado o vigilante. A rede também criou grupo de trabalho para desenvolver “ações relacionadas à diversidade e inclusão social” e treinou cem funcionários, em parceria com entidades de defesa da inclusão social.

 

“É raro no Brasil as partes se acertarem sem recorrer à Justiça num caso de discriminação. É positivo, exemplar e emblemático”, avaliou o ex-secretário estadual da Justiça, Hédio Silva Junior, membro do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. Em mil processos judiciais semelhantes compilados pela instituição, os valores de indenização variaram entre R$ 2 mil e R$ 230 mil.

 

Lentidão. Sete meses depois, ninguém foi punido criminalmente no caso de Santana e o inquérito policial sequer foi finalizado. Encaminhado na semana passada para a 2ª Vara Criminal do Fórum de Osasco, a polícia solicitou nova prorrogação do prazo. “Vamos pedir explicação formal sobre a demora, é absurdo que não tenham nem terminado o inquérito”, disse Dojival. “Assim, o Ministério Público e a Justiça não podem atuar.”

 

A defesa também vai pedir revisão no exame de corpo de delito do Instituto Médico-Legal, no qual os ferimentos em Santana são classificados como “leves”. “São ferimentos graves. Ele operou o maxilar 20 dias depois do espancamento. Vamos levar documento do Hospital Universitário da USP, que comprova que ele instalou placa de metal e parafusos no maxilar.” A tentativa da defesa é que o caso seja apurado como crime de tortura, e não como lesão corporal dolosa.

 

 

 

 

Fonte: Estadão

+ sobre o tema

Nota de alunos que ingressam na UFMG pela cota já supera a dos não cotistas

Cotistas que garantiram uma vaga na UFMG neste ano...

Inclusão de advogados negros esbarra em racismo recreativo e acolhimento falho

Apesar da movimentação de diferentes escritórios de advocacia no...

Autoridades abrem reunião da ONU sobre Década Internacional de Afrodescendentes

Ministra Nilma Lino Gomes discursou na abertura Do SEPPIR Gestores de...

para lembrar

Sobre sambas-enredo e ensino

Esta é uma publicação especial motivada pelo Dia da...

Casos de nazismo e racismo constrangem Fifa

Torcedor que invadiu o campo traria mensagens neonazistas A Fifa...

Diplomacia brasileira quer acabar com rótulo de masculina, branca e de pai para filho

Para tentar espelhar de forma mais representativa a realidade...

Movimento contra Bolsonaro ganha adeptos na rede

Adoro uma série de TV norte-americana que se chama Salem....
spot_imgspot_img

Marca de maquiagem é criticada ao vender “tinta preta” para tom mais escuro de base

"De qual lado do meu rosto está a tinta preta e a base Youthforia?". Com cada metade do rosto coberto com um produto preto,...

Aluna é vítima de racismo e gordofobia em jogo de queimada na escola

A família de uma adolescente de 15 anos estudante do 9º ano do Colégio Pódion, na 713 Norte, denunciou um caso de racismo e preconceito sofridos...

Atriz Samara Felippo presta depoimento em delegacia sobre caso de racismo contra filha em escola de SP

A atriz Samara Felippo chegou por volta das 10h desta terça-feira (30) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro de São Paulo. Assista o...
-+=