Chuchu com camarão, prato genuinamente brasileiro criado por africanos no século 16

A origem africana de várias comidas típicas brasileiras. A culinária brasileira é fruto das misturas e experiências feitas nas cozinhas portuguesa, africana e indígena. Mas quem deu a cara ao que chamamos de comida brasileira, foram os negros, principalmente os das tribos sudanesas (iorubá, nagôs, jejes, tapas e haussás) e os da costa oeste da África, da Guiné e de Cabo Verde. Esses africanos eram mais aceitos nas cozinhas e introduziram o seu padrão de fazer a comida aqui no Brasil.

Eles trouxeram muita comida que está diariamente nas nossas mesas. Os africanos introduziram aqui o leite de coco, que tem origem na polinésia – mas foram eles que trouxeram para o Brasil – e o azeite de dendê. Eles também são responsáveis pela troca da pimenta-do-reino, uma especiaria das índias, pela pimenta malagueta no nosso padrão de uso diário. Os africanos também presentearam o Brasil com o feijão preto e o quiabo.

Pratos típicos da África, passaram a ser comida regional baiana, como vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e a pamonha – que ao contrário do que se pensa, não é uma invenção indígena.

Os africanos impuseram uma forma de cozinhar diferente da européia aqui no Brasil. Os europeus trabalhavam muito com cozimento lento, de qualquer tipo de carne, usando a própria gordura do animal, fosse caça, ave ou peixe. Os africanos já faziam isso com caldo, usando muita água e vapor nos cozimentos. O brasileiro médio herdou essa forma de cozinhar deles.

Mas a contribuição dos africanos não ficou só no que eles trouxeram de seu imenso continente para cá. Eles também criaram pratos aqui e o mais genuíno é uma receita que eu adoro: chuchu com camarão (foto lá de cima). Eles não conheciam o chuchu, mas já trabalhavam bem o camarão, inclusive a técnica de salgamento e ressecamento. Eles não modificaram só os pratos portugueses, mudaram também as criações indígenas.

Os africanos também são responsáveis por dois utensílios fundamentais nas cozinhas mineira e baiana: as panelas de barro e a colher de pau.

Mas a contribuilção deles não fica só nisso, as tribos africanas trouxeram também a Galinha D’angola e um turbérculo de grande potencial medicinal, o inhame. Isso sem falar na cana-de açúcar, que foi o segundo primeiro ativo da nossa economia e continua até hoje um dos principais comodities brasileiros, pelo açúcar e pelo etanol.

Gastronomicamente, a cana rendeu a garapa, a rapadura, o açúcar mascavo e a tradicional cachaça.

Os africanos também tomam muita sopa. Até pela predominância de tribos litorâneas entre os negros que chegaram no século 16, algumas receitas se tornaram comuns por aqui. Existe até uma históia engraça, que eu não sei se é verdade ou lenda.

O primeiro negro chegou ao Brasil a bordo da armada de Martin Afonso de Sousa, em 1549. Vinham da Guiné e de Cabo Verde. Nesse mesmo navio estava chegando o primeiro Governador-Geral, Tomé de Souza.

Tomé de Souza se alimentava muito mal, era preconceituoso e vivia doente por causa disso. Aí os negros a bordo da nau ofereceram sopa de cabeça peixe pra levantar as energias do governador. Ele se recusou terminantemente e disse que pela adoração a São João Batista não comeria aquilo, apenas peixe.

Depois de tentar convencer o governador e não conseguir, o padre Manoel da Nóbrega mandou que jogassem a rede ao mar. Sabe o que veio dentro? Só cabeça de peixe, bem fresca.

Tomé de Sousa entendeu isso como milagre e virou adepto desse prato que é muito cultuado no Pantanal Brasileiro e na Amazônia, a sopa de cabeça de piranha, que é um excelente revigorante.

Fonte: Gourmet Brasilia

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