‘Susan Boyle brasileira’ prepara disco com produtor de Roberto Carlos

Ex-doméstica, Nice Silva deixou Guto Graça Melo ‘impressionado’.
‘Não acreditavam que eu pudesse cantar’, diz apadrinhada de Victor & Leo.

Por: Rodrigo Ortega

Nice Silva tinha 16 anos, em 2007, quando resolveu mostrar as músicas que fazia desde criança em Guaçuí (ES). Nascida em Varre-Sai (RJ), ela se mudou para a pequena cidade capixaba aos dois. A garota humilde, que já trabalhou com serviços domésticos, achava difícil marcar shows, mesmo que pequenos. A dificuldade, para ela, tinha motivo: “Por preconceito. Quando me olhavam, as pessoas não acreditavam que pudesse cantar”, diz em entrevista ao G1.

Em março de 2012, Nice estava com violão em punho diante de 100 mil pessoas. Com Victor & Leo, gravou “Sem negar”, composição sua, para o DVD da dupla “Ao vivo em Floripa”. “Lembrei-me de estar cantando nos bares pouco tempo antes, e de repente estava ali, ao lado de uma das maiores duplas do Brasil. Não me achava preparada. Senti frio na barriga, meu coração parecia mais aberto”, recorda Nice.

A história da artista desacreditada que comoveu as pessoas com sua voz lembra a de Susan Boyle. A escocesa surpreendeu os jurados e o público ao cantar no programa de TV “Britain’s got talent”, em 2009. Nice concorda com a comparação. “Acho nossas histórias muito parecidas. Quero continuar cantando, não importa o que aconteça.”

Leo lembra o encontro que começou a mudar a vida de Nice, antes do show em Florianópolis. “Ela veio ao camarim de um show nosso em Guaçuí [ES], ‘interiorzão’. Falou: ‘fiz uma música para vocês, quero apresentar’. Mas tinha muita gente, estava corrido. A gente falou: ‘tudo rapidinho’. Quando ela abriu a boca para cantar a gente ficou encantado”, conta Leo.

Victor & Leo convidaram Nice para o ensaio do DVD. Leo lembra que ela chegou sem instrumento. “Ela contou a história de vida dela”, recorda. “A gente se emocionou. Uma pessoa que veio de condições financeiras muito pequenas, visto que o mercado hoje se restringe a posição social e grana. Vimos que o que ela tinha conquistado vinha do talento. É um exemplo para muita gente. Foi uma guerreira em continuar na música, porque sofreu muito preconceito. É uma cantora que vai marcar”, arrisca.

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A dupla contratou Nice para o seu escritório, Vida Boa, e a levou para o Rio de Janeiro, onde ela grava o primeiro CD com o produtor Guto Graça Melo. Veterano da música brasileira, Guto já produziu Roberto Carlos e trabalhou com a maioria dos grandes nomes da MPB. “O Victor me falou loucuras dela. Fui ouvir o trabalho como compositora e violonista e fiquei muito impressionado”, diz Guto.

A voz grave de Nice lembra a de Paula Fernandes. Mas Guto rejeita comparações: “Ela não quer se parecer com ninguém, é surpreendente. O som é um misto de country pop com balada. Mas é um estilo próprio, interessante. Além de tudo, ela é criadora. As composições são todas dela”, adianta.

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A cantora de 21 anos, ao contrário de outros jovens da sua idade, não ouvia seus artistas preferidos via MP3 e vídeos no YouTube. Ela não tinha sequer aparelho de rádio em casa. “Ouvia as músicas através de um toca-discos de minha mãe. Ela colocava vários vinis de cantores como o Roberto Carlos. E eu ouvia músicas sertanejas de raiz que meu pai tocava”, lembra. Enquanto finaliza o disco, Guto Graça Melo já resume a história de Nice em uma palavra. “É uma expressão da moda, mas se encaixa bem para ela: superação”.

 

 

Fonte: G1

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