A história de Cassiano, o gênio esquecido e ícone da música negra brasileira

Cassiano tem seu nome marcado na história da música, mas, infelizmente, é pouco conhecido das novas gerações.

Sua qualidade como cantor e compositor o coloca no mesmo nível que Tim Maia, porém, injustamente, com menos holofotes.

Genival Cassiano dos Santos nasceu em um bairro pobre da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Quando criança, aprendeu os primeiros acordes de violão com seu pai, amigo íntimo da fera Jackson do Pandeiro.

Ao chegar com a família ao Rio de Janeiro, em meio a um grande processo migratório, Cassiano conseguiu emprego de servente de pedreiro. Nos horários e dias de folga, aproveitava para treinar acordes de violão e bandolim. Durante os anos 60, período em que a música negra, principalmente o soul, passavam a fazer cada vez mais sucesso, o cantor se junta com Hyldon e outros músicos e formam a banda “Bossa Trio” que, mais tarde, se converteria em os “Diagonais”, grupo responsável, junto com Tim Maia, pela difusão da música negra pela região sudeste.

O Síndico havia voltado dos Estados Unidos há pouco tempo e estava na fissura para produzir, encontrou no Brasil Cassiano, que tocava junto com sua banda na noite de São Paulo e Rio de Janeiro. Impressionado com o talento do cantor na guitarra, voz e composição, Tim Maia convida Cassiano para a gravação do primeiro álbum do Síndico, em 1970. Foi nesse disco que Tim inseriu duas composições do cantor Paraibano “Eu amo você” e “Primavera”, sucessos que ajudaram Cassiano a tornar seu nome conhecido e passar para a carreira solo, arrastando muito fãs pelo caminho.

Seu primeiro disco solo foi “Imagem e som”, de 1971.

Capa do álbum ‘Imagem e Som’ de 1971 (Reprodução)

Neste LP, interpretou “Ela mandou esperar” e “Tenho dito”, ambas em parceria com Tim Maia, e ainda, “Primavera”, com Silvio Rochael e “Uma lágrima”. O primeiro lançamento foi um grande sucesso, o que garantiu a segunda gravação, denominada: “Apresentamos o nosso Cassiano” álbum no qual interpretou dez composições de sua autoria, dentre elas, “Cedo ou tarde”, com Suzana, “Me chame atenção”, com Renato Britto e “Castiçal”.
Mas a grande explosão de sucesso viria em 1976, quando lançou o disco com duas de suas músicas mais conhecidas: “A Lua e Eu” e “Coleção”, ambas viraram temas de novela da Globo e marcaram uma geração de fãs da música negra.

O grande sucesso do cantor ajudou a impulsionar o movimento negro no Brasil, o qual se reunia em torno dos bailes organizados em São Paulo e Rio de Janeiro sob a égide da trilha sonora composta por Cassiano.

Porém, com toda a genialidade, o cantor foi acometido por problemas respiratórios e foi submetido à retirada de um dos pulmões, fato que levou ao enfraquecimento de sua voz e, consequente, aposentadoria. Nas décadas de 80 e 90, Cassiano compôs músicas para Alcione e outros cantores famosos, fez pequenas participações em um disco aqui e outro ali.

Nos anos 90, esquecido pela indústria cultural brasileira e pouco lembrado pelas novas gerações, a gravadora Universal retoma a voz do cantor no disco “Velhos camaradas”, de Cassiano, Tim Maia e Hyldon, álbum que reuniu alguns sucessos de cada um dos artistas e fez um estrondoso sucesso de vendas e público.

Atualmente, o cantor continua vivo, mas pouco participa da indústria musical atual. Suas composições são tocadas todos os dias em videokês. Para as novas gerações, ele é lembrado pela citação em uma das músicas dos Racionais “Vida Loka – parte II: “Ouvindo Cassiano, há, os gambé não guenta”.

Na maior parte das vezes, o nome do cantor passa despercebido por entre as batidas do rap do grupo paulista. Percebemos que poucos entenderam que Cassiano foi fundamental para o estabelecimento da música negra no Brasil e, sem ele, certamente teríamos um Racionais muito diferente do que é.

Cassiano é um daqueles gênios que aparecem em nosso país, entretanto, não é lembrado como deveria, nem de acordo com o talento e trajetória que teve.

Aqui guardamos um espaço para seu legado e para sua importância para a música brasileira, principalmente aquelas que tocavam em barracos de comunidades pobres, enquanto o jovem negro penteava seu cabelo no garfo pra dar um rolê na noite de sábado.

Grande Cassiano!

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