– Pela milionésima vez, por favor, se amostrar, não existe. Não pega bem para você, uma pessoa formada e reformada pela universidade, usar uma expressão incorreta como essa.
– Ora veja, incorreto para mim é o que não faz sentido, se amostrar faz sentido para boa parte do país.
– Não faz sentido e está errado.
– Prismando pela gramática você pode até estar certa, mas no cotidiano das pessoas está errada.
– Por que você não usa um sinônimo mais simples da palavra? Exibido, por exemplo. Todo mundo conhece.
– Não dá, porque uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Quem se exibe é exibido, quem se amostra é amostrado.
– Compreendo. Mas, quem se exibe e quem se amostra não busca o mesmo resultado, ou seja, vender o próprio peixe? Pense bem, é melhor vender seu peixe com as palavras adequadas.
– Pois é aí que sua isca se engana, se exibir é assunto de vitrine, se amostrar é assunto de farmácia.
– Como assim? Você está me parecendo assunto de confusão mental.
– Não é que eu queira me gambá, mas confusa é você que prisma pela gramática e não entende os prismas criativos do olhar. Vou dar um exemplo para ver se te ajudo. Quando a pessoa compra uma roupa e não tira mais do corpo, aproveita e conta para todo mundo que comprou aquela peça, ela está se exibindo, é exibida. Mas quando a pessoa compra um corselet do tamanho de Minas Gerais, espreme o Pará, coloca dentro de Minas, depois vai debutar num ambiente para 20 convidados, ela quer se amostrar, é amostrada. Pensando em termos mais contemporâneos, os vendedores de shopping que olham com desprezo para os meninos dos rolezinhos e no fim das contas moram no mesmo bairro deles são exibidos. Eles acham que o nariz empinado, a gomalina no cabelo, a roupa padrão vendedor de loja de shopping e aquele olhar de conferência nojento em cada pessoa diferente do branco que eles almejam ser, faz deles seres diferentes e superiores ao rolezistas. Por outro lado, as meninas e meninos dos rolezinhos vão para os corredores dos shoppings para se amostrar, para serem consumidos uns pelos outros, são, portanto, amostrados. Percebeu a sutileza da diferença?
– Entendo, mas está errado.
– Como é que está errado se você entende? Se milhões de pessoas entendem e usam? Você não aceita a inventividade linguística do povo, isso é que é. Aceite que dói menos. Amostrar é verbo torto no breviário das conjugações e amostrado é particípio de amostra grátis! Pronto. Captou?