África: Livros mudam pessoas

Sérgio Matsuura, 

Uma ONG baseada na Espanha está incentivando a leitura em países em desenvolvimento com o uso da tecnologia. Em vez de bibliotecas e livros, Kindles e celulares. A Worldreader, fundada há três anos por Colin McElwee e David Risher, já distribuiu 10 mil leitores digitais Kindle em cinco países africanos e o aplicativo para telefones celulares já foi baixado mais de 500 mil vezes. Agora, a organização planeja investir na América Latina, começando pelo México ou pelo Brasil.

— Nós estamos na África para demonstrar que o projeto funciona. Ano passado estive em Manaus e em Belém para ver como o sistema educacional funciona e se poderíamos fazer alguma coisa. Nós definitivamente começaremos a atuar na América Latina a partir de 2014 — planeja McElwee.

Atualmente, a ONG mantém uma espécie de programa piloto em Gana, Quênia, Luanda, Uganda e Tanzânia, com 10 mil crianças beneficiadas. De acordo com McElwee, a intenção é alcançar o número de um milhão de jovens beneficiados até 2015.

— É uma satisfação enorme. Nós levamos livros para pessoas que nunca poderiam pagar por eles — diz McElwee.

Em 2012, a Worldreader ampliou suas apostas. Em vez de focar apenas nos leitores digitais, desenvolveu o biNu, um aplicativo compatível com o sistema Android e com os chamados featured phones, aparelhos simples, sem conexão 3G. McElwee explica que o programa é leve, o que facilita a distribuição, pois não requer planos de dados. Mesmo estando em período de testes, o programa registra mais de 500 mil leitores mensais.

— Em qualquer lugar que você possa fazer uma ligação por celular, você pode ler um livro. É uma oportunidade para levar a leitura para qualquer lugar do mundo. E não precisa de 3G, apenas o 2G — explica McElwee.

Além de investir na distribuição das plataformas, a ONG também fecha acordos com editoras para disponibilizar livros gratuitamente. Para os leitores digitais já existem mais de 440 mil títulos, inclusive em línguas locais, como a ganesa Twi e o Kiswahili, falado em partes do Quênia, Tanzânia e Uganda. A biblioteca virtual para o aplicativo móvel conta com 1,5 mil obras.

A iniciativa é bancada por uma série de empresas de tecnologia, editoras e governos locais, incluindo a Amazon, fornecedora do Kindle. A Unesco e o time do Barcelona também apoiam o projeto. Segundo McElwee, apesar de a Worldreader ser uma entidade sem fins lucrativos, ela pode promover ganhos indiretos aos parceiros.

— Nós falamos para o editor: você vai dar a possibilidade de uma pessoa ler um livro que ela jamais compraria. A editora não está perdendo consumidores, está ganhando. O projeto ajuda a cultivar novos leitores — afirma McElwee.

 

 Não deixem de ler:  Não vou mais lavar os pratos – poesia de Cristiane Sobral

 

Fonte: Livro Pessoas

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