No dia 20 de maio de 2021 lancei, para uma audiência deveras atenta, um livro biográfico sobre a primeira deputada catarinense e a primeira negra do Brasil, Antonieta de Barros, nascida em 1901- 13 anos após a abolição do Brasil- em Florianópolis, na capital brasileira que ainda performa a menor população negra do país.
A bem da verdade, no âmbito das relações políticas legislativas , essas referencias são ultrapassadas, quando sabemos que Antonieta de Barros foi também a primeira parlamentar mulher eleita na região sul e, uma das cinco primeiras mulheres eleitas no Brasil. E seguramente foi uma das primeiras mulheres eleitas na America latina e , quando olhamos o cenário eleitoral norte americano, sabemos que Shirley Chisholm ( Nova Iorque:1924- Ormond Baeach: 2005), foi a primeira mulher negra eleita nos Estados Unidos da América do Norte , em 1969, ou seja, 35 anos depois de Antonieta, no Brasil.
Estruturei o livro em sete capítulos. Meu desafio principal foi o de trazer Antonieta antes de sua eleição, em 1934, tentando demonstrar que ela não nasceu no mandato, pelo contrario, que foi sua trajetória que e qualificou para ser indicada.
Assim, centrei a obra em sua família negra, conteúdo ausente em seu percurso. Ela foi neta e filha de escravizadas, e ainda que eu tenha tentado me aproximar com parcimônia desses contextos, quis demonstrar o que eles seriam capazes de revolucionar. Assim, escrevi um capítulo sobre todos os seus e as suas parentes. De forma inédita, trazemos o pai de Antonieta, Rodolfo José de Barros, um negro, nascido na Bahia, em 1853. Ele não criou Antonieta, mas lhe legou o sobrenome. E meios irmãos. Antonieta teve irmão que fundou organização negra; associação de pintores; e que foram da direção de clube negro, do movimento dos tipógrafos e, uma irmã professora, Leonor de Barros, que fundou com ela uma escola particular, em 1922.
Depois quis falar sobre Antonieta, a estudante . Sobre como ela, aos 18 anos, foi presidenta do grêmio das normalista da Escola Normal Catarinense e, com 19 anos, já organizava uma publicação estudantil na mesma instituição. Estava posta, portanto, sua verve política e de escritora, que atravessaria sua trajetória.
Segui trazendo sua escola e suas concepções de e para educação.
Mais a frente, destaquei sua trajetória na imprensa catarinense, sendo a mulher que por mais tempo ocupou esse espeço, iniciando, com o pseudônimo Maria da Ilha, suas escritas, em 1924. Foi em 1928 que ela publicou seu primeiro texto ” feminista” e foi uma das principais jornalistas catarinenses a discorrer sobre os avanços do movimento.
Foi da Liga do Magistério Catarinense e do Centro Catarinense de Letras. Sua presença foi também registrada no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, na Associação Catarinense de Imprensa, na Campanha Nacional Contra o Analfabetismo.
Católica, não poderia deixar de destacar essa sua pertença, a qual motivou a publicação de seu livro ” Farrapos de Idéias”, publicado em 1937. Com ele, Antonieta torna-se a primeira mulher negra escritora em Santa Catarina. O livro foi publicado para arrecadar recursos para os filhos dos leprosos.
Em 1933 requereu seu titulo de eleitora. Em 1934 foi a unica mulher eleita em Santa Catarina e percorremos seu processo de campanha inovador. Tomou posse. Foi membro de varias comissões e assinou a Constituição Catarinense. Em 1948 tomou posse, no segundo mandato, como suplente. No legislativo é lembrada por suas pautas em defesa da educação e do magistério.
Trazemos também outros atravessamentos, dos quais, destacamos a passagem do deputado negro Monteiro Lopes e do flautinista Patápio Silva, por Florianópolis, e a luta anti racista nos tempos dela, quais seja, de 1901 a 1952.
Antonieta de Barros: Professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil, é uma história escrita por dentro. Assim, a apresentação é de minha filha, Azânia Mahin ( doutoranda em geografia da UFBA) e o posfacio é de um dos sobrinhos netos dela, o pós doutor Flávio Soares de Barros.
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