Artista aponta racismo de polícia em investigação sobre mural com pichação

Enviado por / FonteISTOÉ

Dono da obra intitulada “Deus é Mãe”, que está localizada na região central de Belo Horizonte e retrata a história de uma mulher negra e seus dois filhos, Robinho Santana, de São Paulo, acredita que há racismo por parte de uma investigação da Polícia Civil.

O mural foi pintado durante a 5ª edição do Circuito Urbano de Arte (CURA), em setembro de 2020. Em dezembro, as curadoras do festival e alguns patrocinadores do evento foram chamados para depor na Delegacia de Crimes Contra o Meio Ambiente. A alegação é de que a arte seria criminosa por conter pichação.

Conforme apontado pelo UOL, a estética do piche está presente na moldura do painel e foi uma colaboração de outros artistas da cidade, Poter, Lmb, Bani, Tek e Zoto, a convite do CURA e de Robinho.

“O festival é feito todo de forma legal, autorizada. Então ficamos bem surpresas, porque não tem crime nem da nossa parte e nem dos artistas”, disse Priscila Amoni, uma das curadoras do festival. De acordo com ela, a obra foi autorizada em várias instâncias, entre elas o condomínio do edifício Itamaraty e a Prefeitura de Belo Horizonte.

“O meu trabalho há anos fala sobre a representatividade negra. Eu consegui me reconhecer assim e acho importante que as pessoas que olham para as minhas obras se reconheçam também”, afirmou Robinho.

Apontando racismo na investigação, o artista pontuou: “A pichação é um elemento vindo da periferia e feito majoritariamente por pessoas pretas. Não existe coincidência. Se fosse uma outra obra e a tipografia utilizada fosse outra, essa perseguição não existiria”.

“Quem fez essa denúncia está definindo por ele mesmo o que é arte, o que é bonito e o que não é”, completou Santana.

Priscila também compartilha da mesma opinião de Robinho e falou que a ação criminaliza a cultura periférica. “Não é coincidência que as obras menos aceitas por parte de alguns setores da sociedade sejam feitas por artistas negros ou indígenas. O CURA é um festival que trata de minorias, que é aliado dessas minorias e ajuda a ampliar vozes. Cada vez mais a gente vai atuar nesse sentido”, reforçou ela.

Felipe Soares, advogado do CURA, entrou na Justiça na última quinta-feira (28) para pedir a suspensão do inquérito. Ele afirma que nenhum crime foi cometido, já que havia autorização para que a obra fosse realizada. Segundo o profissional, se forem indiciados, os artistas e as curadoras do projeto poderiam pegar até 4 anos de reclusão.

“Há um certo preconceito nessa investigação. Em alguns relatórios que a polícia já produziu analisando a obra, o meio é visto como belo e a estética da pichação é vista como algo que degrada. Então tem um julgamento subjetivo aí sobre essa questão estética”, opinou Felipe.

“Isso é uma fração do que acontece nas favelas. A galera silencia e criminaliza as pessoas simplesmente por causa da sua existência, então é importante que esse caso faça a gente olhar para o todo”, finalizou Robinho.

Fonte: ISTOÉ

+ sobre o tema

Em São Paulo, PM assassinou 338 pessoas em oito meses

O mês de agosto foi o mais violento, com...

Neonazistas caem em pegadinha

O público de um show neonazista, realizado na...

Scotland Yard suspende oito policiais acusados de racismo

A Scotland Yard comunicou que um total de oito...

James Gunn desabafa sobre Zendaya como Mary Jane em Spider-Man: Homecoming

O rumor de que a cantora Zendaya, já confirmada no...

para lembrar

‘Mulher me ofereceu moedas’, diz bailarina vítima de preconceito em Natal

Bailarina e pesquisadora, Silvia Alves desabafou em uma rede...

Paraná Clube leva multa de R$ 30 mil por caso de racismo na Vila Capanema

Mesmo após divulgar imagens do suspeito, Tricolor não escapa...

Pra 2018 começar

Milhares de pessoas se dirigem às águas, evocando paz...
spot_imgspot_img

Relatório da Anistia Internacional mostra violência policial no mundo

Violência policial, dificuldade da população em acessar direitos básicos, demora na demarcação de terras indígenas e na titulação de territórios quilombolas são alguns dos...

Aos 45 anos, ‘Cadernos Negros’ ainda é leitura obrigatória em meio à luta literária

Acabo de ler "Cadernos Negros: Poemas Afro-Brasileiros", volume 45, edição do coletivo Quilombhoje Literatura, publicação organizada com afinco pelos escritores Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. O número 45...

CCJ do Senado aprova projeto que amplia cotas raciais para concursos

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (24), por 16 votos a 10, o projeto de lei (PL) que prorroga por dez...
-+=