O Asa foi criado para ensinar Iorubá de uma maneira divertida e contribuir para a preservação e difusão da língua falada pelo segundo maior grupo étnico da Nigéria.
Por Kauê Vieira Do Afreaka
Lá se vão 16 anos desde o início do século XXI. Para alguns o novo milênio significaria o fim da humanidade, contudo a nova era se mostrou um marco definitivo no avanço e consolidação da tecnologia como ferramenta essencial para a existência humana. O período se tornou ainda mais forte com o advento das redes sociais e com a chegada dos chamados telefones inteligentes ou smartphones, que facilitaram e muito a vida de todos ao redor do planeta.
Em África não foi diferente, muito pelo contrário, o boom tecnológico foi ainda mais forte já que o continente negro saltou diretamente para o tempo da comunicação móvel. Com a crescente urbanização de metrópoles como Lagos, na Nigéria e Nairóbi, no Quênia, os aparelhos celulares são utilizados para muito além de troca de mensagens e navegação em páginas do Facebook. Por exemplo, até 2005 cerca de 81% da população do Quênia não tinha conta em bancos. Problema sério? Sem dúvidas, contudo apoiado nos 27% de habitantes com acesso à internet pelo celular, foi criado o MPesa, sistema que proporciona a realização de transações bancárias pelos aparelhos móveis. Para se ter uma ideia do impacto, o MPesa possui hoje cerca de 20 milhões de usuários.
No mesmo caminho está a Nigéria, um dos centros tecnológicos de África. É de lá que emergem iniciativas que aliam tecnologia com desenvolvimento social. Um dos muitos casos é o Asa (fala-se Asha), desenvolvido pela Genii Games para ensinar Iorubá de uma maneira divertida e contribuir para a preservação e difusão da língua falada pelo segundo maior grupo étnico do país. Criado por Adebayo Adegbembo, formado pela Universidade de Lagos, o aplicativo reúne inúmeros jogos com lendas, palavras e ilustrações de elementos formadores da cultura Iorubá.
Como você sabe, as religiões de origem Iorubá são muito fortes no Brasil e por isso incorporamos símbolos destes cultos, como o orixá Sango (Xangô, em português). (Divulgação)
“A Genii Games trabalha para divertir e promover a cultura africana para crianças. Com isso ajudamos a preservar valores fundamentais como a língua e a ética entre os mais jovens. Fazemos isso de diferentes formas, inclusive com o Asa. Nós utilizamos jogos, animações, gráficos coloridos, voz e som para conquistá-los. Temos a tecnologia e seus avanços diários como principal aliada,” explica Adebayo em entrevista ao Afreaka.
A Nigéria possui cerca de 521 línguas listadas, mas em função do domínio exercido pelos colonizadores do Reino Unido, o inglês se tornou a língua oficial e com isso o número de crianças familiarizadas com o Iorubá foi diminuindo com o passar do tempo, o que acendeu o sinal amarelo para pessoas como Adebayo.
O Asha foi criado por Adebayo Adegbembo, formado pela Universidade de Lagos. (Divulgação)
Conexão com o Brasil
A África como um todo é um dos pilares na formação da cultura brasileira, entretanto foram os Iorubás vindos de países como o Benim, Nigéria e Togo que mais deixaram suas marcas por aqui, especialmente na Bahia. Um dos principais elos entre eles e os brasileiros foi sem dúvida a religião, em especial o Candomblé, o que fez com o que o Asa se tornasse um sucesso com os brasileiros.
“Deixando de lado as óbvias conexões entre Brasil e África, especialmente na cultura, o Asa caiu no gosto do povo por tornar o aprendizado da língua Iorubá divertido. Como você sabe, as religiões de origem Iorubá são muito fortes no Brasil e por isso incorporamos símbolos destes cultos, como o orixá Sango (No Brasil, Xangô). Eles são destravados sempre que o usuário termina um jogo que tenha relações com o tópico. Aliás, em um futuro próximo queremos traduzir o aplicativo para o português”, explica Adebayo Adegbembo.
Tecnologia e desenvolvimento social, é desta forma que Adebayo e outros entusiastas africanos contribuem para a preservação de culturas, costumes e o estreitamento das relações entre o Brasil e o continente negro.
“A cultura brasileira é muito rica e parecida como que temos aqui na Nigéria. Nós temos histórias em comum desde o tempo da escravidão. Durante o Festival Osun Osogbo eu conversei com um grupo de brasileiros que dividiam de nossas tradições e estavam felizes de expressá-las. Pessoalmente tenho muito material sobre as trocas que tivemos. Pra mim seria um prazer experienciar com profundidade esta conexão”.
*Lembrando que o Asa está disponível para download nas plataformas Android e Apple.
Para baixar e saber mais: http://www.geniigames.com/