A comunidade quilombola Quingoma é o primeiro lugar no Brasil a receber a certificação de território iorubá. A cerimônia ocorreu no último domingo (19) com a presença de Ooni Ilê Ifé, o rei de Ifé, cidade na Nigéria.
A comunidade iorubá é uma das mais tradicionais da Nigéria e está no seio da formação histórica e cultural do país. Ifé é considerada local de origem do povo iorubá.
O título busca reconhecer os laços culturais e históricos entre a população local e os nigerianos. Segundo a comitiva real, as tradições do povo iorubá foram preservadas pelos moradores do quilombo, localizado na cidade de Lauro de Freitas, na Bahia.
“Esse título reafirma a nossa luta constante, desde de 1569”, afirma a líder quilombola Rejane Pereira Rodrigues. “Quando o rei reconhece [essa ligação] mostra que estamos no caminho certo, nessa busca incessante”, diz.
A comunidade luta pela titulação do território desde 2005. Em 2013, conseguiu a certificação da Fundação Cultural Palmares, que reconheceu a população do local como remanescente de quilombo. Desde então aguarda o processo de oficialização de posse da terra, executado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Segundo Rejane Pereira, a expectativa dos moradores do local é que o documento ajude a melhorar o acesso às políticas públicas na região.
“Enquanto não titular o território não temos políticas publicas na comunidade. O [título] é pelo futuro desse território iorubá, que foi agora reconhecido como um pedacinho da Nigéria, reafirmando o que nós somos. A titulação é para garantir esse futuro.”
Além de dar visibilidade para a luta pela titulação da terra, a quilombola destaca ainda a importância da cerimônia com a comitiva real na autoestima dos moradores, especialmente as crianças.
“Sempre foi dito que não existem reis negros. Aí a criança se depara com rei negro. Eu, enquanto educadora quilombola vou fazer um chamado para as crianças observarem esse momento. Somos e seremos sempre quilombolas, nesse território sagrado, ancestral.”
O quilombo Quingoma fica em uma área de 1.284 hectares na qual moram 578 famílias. O agrupamento sofre com problemas relacionados com especulação imobiliária e disputa territorial.
Além da comitiva do rei da cidade da Nigéria, a cerimônia que concedeu o título de território iorubá contou com políticos locais e representantes de religiões de matriz africana.
Oficialmente a Nigéria é um país presidencialista, mas muitas regiões tradicionalmente possuem reis.