Primeira edição do Prêmio Leda Maria Martins foi realizada em dezembro, na capital mineira
por Márcia Maria Cruz, do UAI
Com ‘Vaga carne’, Grace Passô se destacou nas artes cênicas. (foto: Kelly Knevels/Divulgação)
Projetos que deram visibilidade à arte negra em 2017 serão consolidados em 2018. A avaliação é do ator e educador Denilson Tourinho, idealizador do Prêmio Leda Maria Martins, cuja primeira edição foi realizada em dezembro, na capital mineira, e homenageia a poeta, dramaturga e professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG). Curador do Festival de Arte Negra (FAN) em 2015, Denilson diz que as “artes pretas” foram um “contragolpe aos movimentos reacionários latentes em todo o Brasil”.
Como surgiu a ideia de criar o Prêmio Leda Maria Martins?
Partimos da necessidade de lançar luz sobre as produções negras. E junto a isso celebrar não só os artistas e produtores, mas aqueles que estão atentos e escrevendo sobre as produções pretas. O prêmio foi criado com a perspectiva de ‘re-unir’ esses profissionais.
Como se chegou às categorias contempladas? Como foi o processo de pesquisa?
As categorias não são apenas destinadas ao que é melhor. Por exemplo, uma categoria de melhor direção seria limitadora, não expressaria o que ocorre. Quando buscamos a nomenclatura ligada à literatura da Leda para as categorias do prêmio, contribuímos para ampliar a percepção étnico-racial das artes negras. Falamos de arte com abrangência em termos de significado, mas partindo do lugar da negritude, de uma leitura de performances pela negritude. Encontramos registros de 143 espetáculos. Enviamos e-mails para artistas e grupos solicitando informações. À medida que fomos recebendo o material, foi necessário fazer a curadoria para o prêmio.
Podemos falar de um teatro negro?
É complicado definir o que é arte negra. Há questionamentos que não têm resposta definitiva. No entanto, o FAN acontece há 22 anos. Assim como outros festivais voltados para a produção negra são realizados com programação diversa, é necessário realizar e inserir essas produções. Mais do que delimitar como é a produção negra, a ideia é, com base no resultado, fazer a curadoria.
Como foi 2017 para as artes negras em Belo Horizonte?
Um contragolpe. A reação aos movimentos reacionários que estão latentes em todo Brasil. Demos respostas, principalmente na questão da negritude.
Quais as perspectivas para 2018?
Invisto na ideia de que os projetos terão continuidade. Estes projetos deram certo: Mostra Aquilombo – com curadoria de Rodrigo Jerônimo e Rosália Diogo –, Segunda Preta, Polifônicas de Artes Negras e EnegreSer, surgido na Escola de Belas-Artes da UFMG. Todos são pautados no diálogo a respeito das cenas, das provocações que possibilitam leitura crítica e trazem relevantes posicionamentos sobre a arte negra.
Idealizador do prêmio, Denilson Tourinho comemora com Leda Maria Martins (foto: Letícia Souza/Divulgação)
PRÊMIO LEDA MARIA MARTINS
Vencedores
» Abena
• Da Cia. Bando
• Muriquinho (infantojuvenil)
» Apologia III
• Do Coletivo Tropeço
• Performance
» Pai contra mãe
• Da Cia. Fusion
• Encruzilhada (direção)
» Vaga Carne
• De Grace Passô
• Oralitura (texto e trilha sonora) e Afrografias (atuação)
» Quilombos urbanos
• Da Cia. Sera que?
• Corpo adereço (dança)
» Eras
• Do Coletivo Negras Autoras
• Cena em sombras (cenário, figurino e/ou luz)
» Madame Satã
• Do Grupo dos Dez
• Palco em negro (espetáculo longa duração)
» Memórias de Bitita: o coração que não silenciou
• Do Grupo Olho na Rua
• Ancestralidade (personalidade, homenagem, revelação)
» Rolezinho e Refém solar
• De Cenas Pretas
• De Elisa Nunes
• Lugar da memória (cena curta)