Campanha de segurança da Polícia Militar revolta entidades raciais em Ribeirão Preto

Cartazes foram afixados em ônibus, Polícia Militar diz em nota que lamenta ‘percepção equivocada e exagerada’

O material de uma campanha de prevenção a roubos da Polícia Militar (PM) revoltou entidades que lutam pela igualdade racial em Ribeirão Preto, que irão acionar hoje o Ministério Público.

Campanha de segurança da Polícia Militar

No cartaz, afixado no interior dos ônibus de algumas linhas do município, há uma mulher branca sendo observada por um personagem de cor negra, que a PM diz se tratar apenas de uma silhueta. As entidades, entretanto, discordam.

“Isso evidencia o racismo institucional da Polícia Militar e reforça símbolos do senso comum, associando o negro ao mal”, explica Silvia Helena Seixas, coordenadora estadual do Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras).

Ela diz que a imagem é prejudicial à autoestima das pessoas negras, em especial os jovens da periferia.
Hoje, a Conen vai procurar a PM, a Transerp e a Acirp (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), que custeou os panfletos, para que a propaganda seja “imediatamente” retirada e que as entidades se comprometam a realizar capacitação de políticas públicas afirmativas.

O Ministério Público será acionado para intermediar o diálogo. A Unegro (União de Negros pela Igualdade) também irá recorrer à promotoria. “É um conteúdo extremamente discriminatório, é assustador que a PM reforce esses estereótipos”, afirmou ao A Cidade Ana Almeida, vice-presidente estadual da entidade.

Repúdio
O cartaz também indignou o vereador André Luiz da Silva (PCdoB), presidente da Comissão Permanente de Direitos da Igualdade Racional da Câmara de Ribeirão Preto.

“Por que sempre o negro é negativo?”, questionou, ressaltando que o terceiro personagem do cartaz, uma policial, é branca – assim como a vítima.

O vereador reclama que realiza diálogo constante com a PM justamente para evitar esse tipo de situação.
“Essa manifestação de preconceito é involuntária, está incutida na cultura, e justamente por isso deve ser combatida”, diz.

Ele afirma que irá apresentar na sessão de hoje da Câmara uma moção de repúdio à campanha.

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Exagero
Em nota, a PM informou que “lamenta a percepção equivocada e exagerada” do conteúdo da campanha.
“É notório que na arte do material sobre ‘Dicas de Segurança’ o ‘criminoso’ é representado pela caracterização de uma ‘silhueta’, por estar na penumbra, observando a sua vítima à espreita atrás de um poste, usando, para tanto, da sombra existente no local”, diz a nota.

O cartaz faz referência ao perigo de andar em ruas mal iluminadas. A Acirp diz que é parceira da PM na divulgação da campanha, mas explica que não foi a responsável pelo conteúdo do material. “Racismo, além de crime, é conduta abominada pela Acirp”, afirma a instituição.

 

 

Fonte: Jornal da Cidade

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