Com China e Brasil, relações Sul-Sul ganham espaço na África

Em 2011, o país asiático ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior parceiro comercial do continente

O crescimento do Brasil na África na última década não é fato isolado, mas parte de uma mudança nas relações externas do continente. Desde a virada do século, os países desenvolvidos deixaram de ser os únicos parceiros dos africanos e ganharam espaço as nações chamado Sul, que inclui os emergentes e economias em desenvolvimento – principalmente a China.

Prova disso é que a China ultrapassou os Estados Unidos em 2011 e se tornou o maior parceiro comercial do continente. Somente com a África Subsaariana, o comércio chinês saltou de US$ 1 bilhão, em 1992, para US$ 140 bilhões em 2011 – um aumento de quase 140 vezes em duas décadas. Nesse mesmo período, o resultado do Brasil foi um crescimento de 15 vezes.

O movimento decisivo da China em direção à África ocorreu em 2000, com a criação do Fórum de Cooperação China-África. Nos dez anos seguintes, o governo de Pequim concedeu US$ 75 bilhões em ajuda aos países africanos, de acordo com o levantamento do Center for Global Development, de Washington. A principal forma de apoio é o financiamento de obras de infraestrutura.

A política brasileira para a África começou um pouco depois da chinesa, com a primeira viagem do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Foi antes disso, contudo, o comércio com os países africanos começou a aumentar.

Na década de 1990, as exportações brasileiras para a África haviam crescido a uma taxa média anual de 4%. Já nos dois últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o salto foi de 33% ao ano – equivalente ao registrado na primeira metade do mandato inicial de Lula. O próprio FHC chegou a manifestar sua decisão de promover “o relançamento da política africana do Brasil”, em 2001, mas deixou a concretização do objetivo para Lula.

Além de China e Brasil, a Índia também aumentou sua presença na África. Entre 2000 e 2010, metade do financiamento para a construção de infraestruturas na África Subsaariana foi concedido pelo Sul. “O Sul está hoje em posição de influenciar e reformular velhos modelos de cooperação para o desenvolvimento graças a recursos acrescidos e às lições colhidas no terreno”, afirmou o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, das Nações Unidas. A publicação fez um grande elogio ao países emergentes e em desenvolvimento e estampou na capa uma bússola de ponta cabeça, onde o novo norte era o Sul.

Mudança. A economia africana também entrou em um novo momento a partir dos anos 2000. Após a década de 1990, marcada por crise, fome e conflito, a África entrou no século 21 com a intenção de virar o jogo. Em 2001, criou um plano conjunto de desenvolvimento econômico, a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Nepad). Em 2002, fundou uma aliança política continental, a União Africana – a exemplo da União Europeia.

Nos anos que seguiram, o número de conflitos violentos diminuiu, mais países passaram a ter eleições regulares e a economia entrou em uma inédita fase de crescimento. Enquanto na década de 1990 a renda nacional per capita na África Subsaariana era representada por uma linha estagnada, em 2000 ela se transformou em uma curva ascendente. De lá até 2012, o crescimento foi de 35%. Guerras, fome e ditaduras são cada vez menos comuns na África. A tônica do momento é o “renascimento africano”.

Fonte: Estadão

+ sobre o tema

Vitória: Mumia Abu-Jamal, do panteras negras, não será mais executado

O ativista negro Mumia Abu-Jamal, ex-membro do grupo Panteras...

Paris: ‘Um Fogo Negro num País de Brancos’

O primeiro negro numa aldeia belga nos anos 90 Paris:...

Hoje na História, 15 de maio de 1994, acontecia o Genocídio em Ruanda

por: Lucyanne Mano O genocídio em Ruanda deixou 800 mil mortos...

ONU Novos canais de financiamento tornam África crítica de “lições

Por Lusa O secretário executivo da Comissão Económica da ONU para...

para lembrar

Estudantes africanos criam Campanha para mostrar diversidade da África: “não somos um país”

Campanha traz estudantes segurando bandeiras de países do continente...

A história escondida: a participação dos soldados das colônias africanas nas grandes guerras

Por Herbert Ekwe-Ekwe*, republicado em O Povo Grandes guerras Em texto primoroso...

TV Brasil inicia parceria com TV pública Angolana

TV Brasil inicia parceria com TV pública de Angola Da...

Africa Y La Crisis Mundial

Fonte: Listaracial Por Jesús Chucho García. Fundación Afroamerica y de...
spot_imgspot_img

Um Silva do Brasil e das Áfricas: Alberto da Costa e Silva

Durante muito tempo o continente africano foi visto como um vasto território sem história, aquela com H maiúsculo. Ninguém menos do que Hegel afirmou, ainda no...

Artista afro-cubana recria arte Renascentista com negros como figuras principais

Consideremos as famosas pinturas “A Criação de Adão” de Michelangelo, “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli ou “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci. Quando...

Com verba cortada, universidades federais não pagarão neste mês bolsas e auxílio que sustenta alunos pobres

Diferentes universidades federais têm anunciado nos últimos dias que, após os cortes realizados pelo governo federal na última sexta-feira, não terão dinheiro para pagar...
-+=