‘Nunca participei de um desfile’, diz Maria Priscila dos Santos ao G1. Concurso nacional aconteceu no dia 8 de novembro, na capital carioca.
Por: Cássia Bandeira e Danutta Rodrigues no, G1
Maria Priscila dos Santos, 31 anos e mestre em Pedagogia. Este é o nome da baiana que, com seus 1,55 m, foi vencedora do 1º Concurdo Miss Black Power do Brasil, no Rio de Janeiro (RJ). Natural do bairro de Rua Nova, em Feira de Santana, Maria Priscila fala sobre a trajetória marcada pelo preconceito racial e como teve que afirmar a identidade na sociedade. “Foi uma experiência ruim”, revela.
Morando no Rio desde junho deste ano, o bairro Rua Nova é recorrente na lembrança. “Faço questão de registrar o meu local de nascimento e de crescimento. Um bairro que sempre foi considerado predominante com a população negra e chamado de ‘bairro dos pretos’. Nesse período, eu estudava em um colégio do centro onde quase não tinha negros e havia um preconceito maior por parte dos professores, que falavam esse nome ‘bairro dos pretos’ de forma pejorativa”, relembra.
Em contrapartida, Maria Priscila comenta a educação proporcionada pelos pais. “Nasci em um berço onde meu pai que fez parte do grupo de jovens ajudou a fundar o Afoxé Pomba Dê Malê, na década de 1980. Minha mãe foi rainha do bloco afoxé. Vivi essa experiência nesse berço negro, no qual, com toda essa efervescência cultural, favoreceu para a minha evolução. Tive um privilégio que outras meninas não tiveram”, afirma.
Segundo a pedagoga, ela e mais três irmãs viveram em uma família que ensinava em não ter vergonha da cor e aceitar com o orgulho a origem identitária. “Meu pai sempre me falou que tínhamos que ter orgulho da nossa cor e não nos sentirmos inferior. Não entendíamos muito bem isso. Não experimentávamos essa questão de preconceito racial. Quando estudei fora do bairro é que vivi essa experiência negativa. Foi aí que entendi tudo o que meu pai falava sobre o racismo. Ele preparou tão bem a gente”, conta.
O concurso
Após se formar em Pedagogia pela Universidade Estadual de Feira de Santana(Uefs), onde foi coordenadora do Núcleo de Estudante Negros e Negras da UEFS (NENNUEFS), e conseguir a aprovação em 2007 de cotas para negros junto com a reitoria da universidade, a baiana concluiu o mestrado na Universidade Estadual da Bahia (Uneb).
Em 11 de junho deste ano, Maria Priscila foi morar no Rio de Janeiro, com o marido. No dia 30 de setembro, recebeu o convite para participar do evento, promovido por mulheres negras, que lhe rendeu o título de Miss Black Power Brasil 2014.
“Em outubro recebi um compartilhamento no Facebook de uma amiga. Ela passou: ‘você pode ganhar este concurso’. Eu já tinha ouvido falar sobre ele [concurso]. São mulheres pretas e empreendedoras que organizam o Mercado Di Preta. Me inscrevi e estava um pouco desanimada. O convite foi feito no dia 30 de setembro e soube que o encerramento era no dia 25 de outubro. Enviei fotos e o vídeo que fiz do celular do meu marido e este vídeo foi visualizado e compartilhado por várias pessoas na redes sociais”, conta.
Conforme relata Maria Priscila, nesta votação ela ficou em segundo lugar e uma outra baiana ficou em primeiro. O concurso que durou de 7 a 9 de setembro, workshops e dança faziam parte da programação juntamente com o desfile. “Era obrigatório e seria o primeiro desfile de apresentação ao público na sexta-feira. Cheguei desfilar com dois vestidos de gala, um com tema “sou uma rainha” que tinha que usar um turbante e o outro era um vestido com inspiração africana. O resultado saiu no dia 8 de novembro com Maria Priscila em 1º lugar.
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