O Instituto Data Popular fez uma pesquisa em 2014 indicando que, apesar de 92% dos brasileiros acreditarem que há racismo no país, somente 1,3% se considera racista. Ou seja, quase todos admitem um crime sem criminoso.
Por Maurício Pestana Enviado para o Portal Geledés
No Brasil, há mais de seis mil crianças esperando para serem adotadas por uma família, segundo o Cadastro Nacional de Adoção. Desse total, a maioria é considerada preta ou parda. Por outro lado, dos quase 35 mil pretendentes a adoção cadastrados no mesmo sistema, menos de 50% aceitam adotar crianças negras.
Os dados evidenciam o racismo inerente em nossa sociedade e colocam em xeque o mito da democracia racial. Mesmo sendo maioria na fila de espera, as crianças negras continuam sendo rejeitadas por parte das famílias, que preferem esperar mais tempo até surgir o “perfil ideal” de filho. Em outras palavras, recém-nascido, branco e sem irmãos.
A adoção sempre foi considerada uma questão delicada e tabu para muitas famílias. Adotar uma criança significa passar por cima de diversos preconceitos enraizados e alimentados pela nossa própria sociedade. E quando esta criança é negra os obstáculos são ainda maiores. Por esta razão, valorizar a autoestima é fator primordial para garantir que uma adoção inter-racial seja bem-sucedida. A criança precisa reconhecer-se como negra e sentir-se bem assim, aceitando sua identidade e a diferença do outro.
Toda criança adotada passa por um processo de adaptação e traumas, logo, os conceitos transmitidos a ela e o aprendizado dos próprios pais como responsáveis por sua formação serão fundamentais. Para as famílias, trata-se de um grande desafio, mas que facilmente poderá ser superado uma vez que o obstáculo maior elas já conseguiram: dar a uma criança negra a mesma oportunidade de ser amada e ter uma família como qualquer outra.