Estrela de debate, socialista Plínio é faz-tudo na própria campanha

Esqueça os jatinhos que cruzam o Brasil em campanha pela sucessão presidencial. Nada de marqueteiros milionários para passar roteiros, sugerir agenda ou melhoras no visual. Tampouco há encontros com lideranças empresariais – chaves para financiar presidenciáveis. A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) ao Palácio do Planalto é quase amadora. Seus aliados chamam de espontânea.

No dia seguinte ao debate na TV Bandeirantes, durante o qual ofuscou Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), Plínio seguiu nesta sexta-feira (6) para o centro de São Paulo. O candidato octogenário passou cerca de uma hora distribuindo panfletos e conversando com potenciais eleitores. Em seguida, isolou-se para gravar programas de rádio e televisão.

Um dos coordenadores da campanha de Plínio, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), disse ao UOL Eleições que o partido socialista depende quase exclusivamente da militância para fazer a campanha à Presidência. A legenda, que surgiu de um racha com o PT, abriu mão de financiamento privado para seus candidatos. Ele ocupou a mesma posição em 2006, quando Heloísa Helena concorreu ao Palácio do Planalto.

“O candidato muitas vezes é obrigado a tratar da própria agenda, discutir os materiais, dirigir o carro até as assembléias, aos movimentos sociais e às agendas”, disse Valente sobre Plínio. “Desde motorista até formulador de programa, desde panfletador até verificador de agenda, o candidato socialista do PSOL tem de fazer tudo se quiser chegar lá”. Por conta disso, a campanha tem se concentrado em São Paulo, cidade onde o candidato vive.

Para o debate de quinta-feira, Plínio foi o único dos concorrentes que precisou de carona do helicóptero da TV Bandeirantes para chegar aos estúdios da emissora. Marina Silva usou o de seu candidato a vice, o executivo Guilherme Leal, bilionário fundador da Natura. Dilma e Serra se beneficiaram de estruturas já prontas para esse tipo de deslocamento.

Membros da campanha do PSOL dizem que a arrecadação do partido está na faixa de R$ 100 mil. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Dilma informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que já conseguiu R$ 11,6 milhões até o início de agosto. Marina, com a ajuda do vice, amealhou R$ 4,6 milhões, enquanto Serra ficou com R$ 3,7 milhões, sempre segundo o diário.

Aos 80, Plínio provoca rivais
De acordo com a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, Dilma e Serra estão tecnicamente empatados. Outros institutos, que divulgaram números mais recentes, colocam a petista à frente do tucano, sempre com Marina em uma terceira e distante posição. Plínio, na maioria das sondagens, mal chega a 1% das intenções de voto. Um cenário que Valente espera mudar após o debate.

“Nós somos o PT da origem, do movimento popular, da espontaneidade, dessa relação direta com o povo”, disse o coordenador de campanha, que ficou ao lado de Plínio na disputa interna com Heloísa Helena. A ex-senadora alagoana preferia uma aliança com Marina, mas acabou derrotada. A crise gerou até a interdição do site do PSOL na internet. Procurada para comentar a candidatura de Plínio, Heloísa não foi encontrada.

Auge no debate
O ex-promotor público atraiu atenção no debate com críticas a todos os candidatos, permeadas de ironias e adjetivos que arrancaram sorrisos até dos adversários. Chamou Serra de hipocondríaco e Marina de conciliadora. Ainda classificou políticas de Dilma e Serra de “quinquilharia”. O candidato do PSOL fez uma de suas críticas mais diretas à presidenciável do PV.

“Você não sabe pedir demissão. Você devia ter pedido demissão”, afirmou Plínio, em relação às tensões entre o Ministério do Meio Ambiente comandado por Marina com outros setores do governo. A senadora deixou a legenda onde começou sua militância para ser candidata à Presidência pelo PV. “Estou ouvindo você aqui e nem parece que você saiu do PT.” Dilma era a principal rival de Marina em Brasília.

A atuação levou o nome do socialista, durante o debate, à posição número um dos trending topics do microblog Twitter. Para Valente, Plínio se esforçou para mostrar que o PSOL é uma alternativa de esquerda mais clara do que Marina. “Uma candidatura que poderia ser alternativa, que é a da Marina, não se coloca como alternativa. A candidatura do Plínio vem ocupar esse espaço de alternativa.”

“A candidatura Dilma trepidou, se arrastou, travou. O Serra foi extremamente burocrático, morno. Não tem o que propor contra o governo Lula. E a candidatura Marina não se coloca como de esquerda ou de direita, nem de oposição nem de situação”, criticou Valente, um dos motoristas preferidos de Plínio pelas agendas no Estado. Menos animado ele parece ao falar com eleitores que o confundem.

“Grande Plínio”, diz um passante no centro de São Paulo. “Eu sou o Ivan! É Ivan”, responde o deputado. Um debate na TV não resolve as mazelas de uma campanha sem recursos.

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