Oito em cada dez mulheres que vivem no Brasil adotam estratégias de segurança no cotidiano para se deslocarem em suas cidades, aponta uma nova pesquisa sobre impressões e vivências no meio urbano realizada pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, obtida com exclusividade pelo g1.
A consulta contou com a participação de 1,6 mil entrevistadas de todo o país, em outubro, e a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Segundo os dados, o medo de sofrer algum tipo de violência ou importunação enquanto se deslocam acompanha 97% das mulheres. Assaltos, estupros e assédios sexuais são os fatores que causam mais apreensão.
Na tentativa de reduzir a sensação de insegurança por conta própria, a maioria desenvolveu pelo menos um dos hábitos a seguir:
- Evitar passar por locais desertos ou escuros;
- Evitar sair à noite;
- Avisar pessoas próximas quando chegam ao destino de seus trajetos;
- Compartilhar a localização com pessoas de confiança;
- Evitar o uso de certos tipos de roupa ou acessórios;
- Optar por seguir caminhos mais longos ou demorados que sejam mais seguros.
Dentre as entrevistadas, 74% já passaram por alguma situação de violência nas ruas, seja assalto, sequestro relâmpago, agressão física, estupro, importunação/assédio sexual, olhares insistentes, cantadas inconvenientes, discriminação ou então racismo.
A maior parte dos casos ocorreu quando elas se deslocavam a pé. Apenas os casos de importunação e assédio sexual foram mais frequente dentro dos ônibus (veja tabela abaixo).
O índice de mulheres que afirmaram conhecer outras que já passaram por alguma das situações descritas foi ainda maior, de 88%, segundo a pesquisa que teve apoio da Uber.
Ônibus e trens são os meios de transporte que mais geram insegurança no grupo. Contudo, os ônibus também são vistos como os meios onde há maior facilidade para realização de denúncias de casos de violência ou importunação, assim como de responsabilização dos agressores.
Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, classifica como inaceitável o fato de tantas mulheres serem vítimas de importunação sexual ao utilizarem transportes coletivos, privados e até mesmo ao caminharem pelas ruas.
“É preciso que as leis sejam aplicadas e que sejam desenvolvidas políticas e mecanismos para prevenção da violência de gênero, que garantam a todas as mulheres o direito de ir e vir sem medo e sem risco de violência”, afirma Jacira.
A insegurança também está refletida em outras situações do cotidiano das entrevistadas. 58% delas disseram ficar aliviadas quando pegam carros de aplicativo dirigidos por mulheres e metade contou que já precisou fingir conhecer alguém na rua para aparentar que estavam acompanhadas e escapar de situações de risco.
A pesquisa mostra que, no geral, mulheres negras tendem a sentir mais o impacto da falta de segurança do que as não-negras.
Para as entrevistadas, a sensação de insegurança tende a aumentar conforme o horário e o meio de transporte utilizado. Ao escolher a forma de se deslocar, elas priorizam o quesito segurança sobre tempo, custo e conforto.
Cerca de 60% delas acreditam que as violências listadas anteriormente cresceram desde 2018. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou no último ano o maior número de estupros da série histórica, iniciada em 2006.
A responsabilidade do Estado em desenvolver iniciativas para reduzir a sensação de insegurança durante o deslocamento das mulheres é reconhecida por nove em cada 10 delas. Melhorias no policiamento e na iluminação pública são as medidas mais citadas pelo grupo.