Ex-Goiás, Welliton foi vítima de racismo na Rússia

– Fonte: Írohín Jornal Online –

MOSCOU (Rússia) – A revolta do técnico do CSKA, Zico, a respeito de manifestações racistas contra o nigerino Ouwo Moussa Maazou no duelo com o Dynamo de Moscou, pela semifinal da Copa da Rússia, no dia 13 de maio, não surgiu de um caso isolado no país europeu. O atacante Welliton, revelado pelo Goiás e atualmente no Spartak Moscou, também já sofreu com a onda de preconceito disseminada por alguns grupos de torcedores. Na ocasião, a Federação Russa de Futebol agiu imediatamente, o que não ocorreu no recente episódio envolvendo o jogador do CSKA.

Assim que chegou ao Spartak, em agosto de 2007, Welliton foi perguntado sobre qual número gostaria de usar. Optou pela camisa 11, a mesma da rápida passagem pelo Goiás e que, num passado recente, pertenceu ao veterano apoiador Andrei Tijonov, ídolo do Spartak e atualmente no modesto Khimki (RUS).

A opção do jogador acabou motivando uma onda de injúrias raciais, já que a torcida não se conformou com o fato de a camisa 11 ser entregue a um brasileiro, negro. No mesmo ano, porém, Welliton fez seis gols em 11 jogos e se tornou não só o principal goleador do Spartak na temporada, como amenizou a desconfiança.

“Eles levantaram uma placa com a mensagem: ‘A camisa 11 é só de Tijonov. Macaco, volte para casa’. Imediatamente, liguei para a minha mãe e pensei seriamente em voltar para o Brasil. Mas ela me aconselhou a continuar aqui e, felizmente, eu consegui superar esse obstáculo”, disse por e-mail ao iG Esporte o atacante, de 22 anos.

A atitude racista dos torcedores do Spartak aconteceu logo na estreia de Welliton, que entrou no segundo tempo do jogo contra o Krylia Sovetov, em 11 de agosto de 2007. O clube se defendeu argumentando que o cartaz teria sido feito por um grupo de neonazistas infiltrados. No entanto, duas semanas após, a Federação Russa de Futebol aplicou uma multa de US$ 20 mil (cerca de R$ 40 mil), sendo esta a maior punição financeira já sentenciada pela entidade.

Em abril deste ano, um novo episódio envolvendo o Spartak e o preconceito de alguns dos seus torcedores, que exibiram nas arquibancadas um cartaz ofensivo contra o Spartak Nalchik, clube do extremo-sul russo. Em russo, os fãs expunham dizeres denegrindo os costumes rurais do povo daquela região – a palavra fazia alusão ao fato de que os habitantes de Nalchilk tinham relações sexuais com animais. Dessa vez, a multa paga pelo clube alvirrubro foi menor: US$ 17,5 mil (cerca de R$ 35 mil). Somente a partir deste caso, os dirigentes do Spartak passaram a estudar alternativas para resolver o problema.

“Um intérprete nos avisou da manifestação dos torcedores no jogo contra o Nalchik. No entanto, o presidente disse que tomaria providências com o nosso torcedor para que isso não voltasse a acontecer. Ele disse também para eu não esquentar a cabeça [com a possibilidade de o brasileiro ser hostilizado novamente] e disse que sabe do meu potencial”, disse Welliton, afirmando que o pior já passou:

“A torcida tem gritado o meu nome durante os jogos. Esse é um belo reconhecimento e também já sou assediado nas ruas”, finalizou Welliton, que fez cinco gols até o momento no Campeonato Russo.

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