Em 1974, Herbert Freudenberger usou o termo “burnout” para descrever o crescente número de casos de colapso físico ou mental causado pelo excesso de trabalho e pelo estresse. Nos anos seguintes, a sensação de profunda exaustão parece ter passado, gradativamente, a tomar conta da sociedade.
Ao mesmo tempo, houve uma progressiva ampliação do conjunto de circunstâncias culturais que potencializam os avanços de quadros de cansaços crônicos. Nesse contexto, o perene estado de exaustão pode ser pensado como o produto de um protesto interno contra todas as exigências que nos rodeiam tanto dentro quanto fora do mundo do trabalho.
As listas intermináveis de tarefas, por exemplo, podem levar a uma angustiante sensação de impotência na alocação do tempo. No meio de tantas prioridades, aquilo que, de fato, são prioridades, como os cuidados básicos com a saúde, acabam ficando em segundo plano. Priorizar o que não é prioridade é uma das marcas da sociedade contemporânea e isso tem gerado um mal-estar que tem o potencial de afetar negativamente as escolhas individuais em várias dimensões.
O estresse provocado pelo agitado mundo moderno costuma gerar quadros de irritabilidade, insônia, alcoolismo e transtornos alimentares e ter diversos desdobramentos negativos sobre a qualidade de vida. Dar o melhor de si passou a não ser suficiente quando a realidade do cotidiano vai minando o ímpeto de alcançar as crescentes demandas e expectativas do que é visto socialmente como o ideal.
Muitos vivem no piloto automático, procurando se encaixar no papel que a sociedade e o contexto familiar moldaram. Vivem baseados naquilo que os outros esperam, sem questionar o que querem. Vivem um roteiro que não escreveram, pois não assumiram a tarefa básica de realizar escolhas ativas. Vivem apenas copiando muito do que já está posto e sufocam seus desejos mais ocultos.
Em diversos casos, aquilo que costuma ser visto como uma vida repleta de conquistas e realizações representa uma miragem de pessoas perdidas, vivendo em um enredo no qual não se preocuparam em questionar o que estavam reproduzindo.
No infinito mundo particular de cada um, muitos exauriram todos os seus recursos internos procurando alcançar as mais variadas expectativas sociais. Entretanto, apesar de exaustos, não conseguem se libertar da compulsão de seguir em frente, sem saber para onde estão indo. Estão esgotados, mas são incapazes de parar para descansar e refletir sobre suas trajetórias.
Nesse cenário, existe uma cultura que olha com desdém para qualquer coisa que pareça ócio. Essa cultura também constrange os indivíduos que abraçam os prazeres comuns. Ter um espaço livre das incessantes demandas do mundo, por exemplo, é uma necessidade humana fundamental. Contudo muitos não conseguem ter esse espaço, pois estão perdendo parte considerável de seu tempo tentando se mostrar incansavelmente para os outros.
O incessante barulho narcisístico das redes sociais sequestrou os momentos que antes eram usados para contemplação e reflexão. Em certo sentido, o celular se tornou uma ferramenta de perseguição implacável. Não é só a rotina do trabalho que está sobrecarregando nossas mentes. A sociedade atual forjou uma cultura sem interruptor para desligar.
Em todo esse cenário, o estresse contínuo e a exaustão prolongada levam a uma gradual amputação das emoções. Muitos daqueles considerados bem-sucedidos estão tendo uma vida miserável. Vários estão fadados a passar o resto da vida apenas suportando o cotidiano em um estado de profunda indiferença. Se esse for o seu caso, não hesite em procurar o apoio dos profissionais da saúde mental.
O texto é uma homenagem à música “Manhã comum”, de Roberto Mendes e J. Velosso, interpretada por Mariene de Castro e Roberto Mendes.