Fabiana, a primeira condutora: “Como mulher e como negra, esse momento representa muito para mim”

A chama olímpica está a caminho de Brasília e será conduzida, a partir desta terça-feira (3), pelas cinco regiões brasileiras. Uma cerimônia no Palácio do Planalto dará início ao revezamento que vai mobilizar mais de 12 mil condutores e chegar a cidades que representam mais de 90% da população brasileira. Por volta das 10h, uma mineira nascida numa cidade de menos de 80 mil habitantes chamada Santa Luzia terá a honra de ser a primeira brasileira a conduzir a chama no roteiro nacional. Integrante de um seletíssimo grupo de 12 atletas bicampeões olímpicos  no Brasil e considerada uma das melhores centrais do mundo, Fabiana Claudino não esconde o simbolismo que enxerga na indicação.

Do Brasil2016

“Como mulher e como negra, esse momento representa muito para mim. Mostra como temos evoluído em relação ao machismo e ao racismo que, infelizmente, são situações que ainda existem. Eu me sinto honrada principalmente por ser negra e ter uma oportunidade de mostrar ao mundo que estamos ali, fazendo parte da história e construindo algo maior. De mostrar a todos que nós, negros, somos capazes, mas às vezes nos faltam oportunidades. Estar ali representando as mulheres, estar representando as negras brasileiras, significa muito pra mim”, afirma Fabiana.

A experiente atleta de 31 anos soma seis medalhas de ouro no Grand Prix, o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011 e duas pratas em Mundiais de vôlei, em 2006 e 2010. “A sensação de carregar a tocha olímpica no meu país é indescritível. Quase não consigo conter a emoção em representar nossos atletas, nosso povo e toda uma sensação de que os Jogos estão a cada dia mais pertinho. Me sinto feliz, ansiosa e honrada com esse papel!”.

Confira, ainda, o perfil de outros condutores que compõem o grupo dos dez primeiros:

Artur Ávila Cordeiro de Melo

Primeiro pesquisador brasileiro e da América Latina a receber a Medalha Fields, considerada o Nobel da Matemática, o carioca Artur Ávila Cordeiro de Melo vai conduzir a tocha para ressaltar a importância da educação para o desenvolvimento do país e para a formação de seus atletas e cidadãos.

Gabriel Medina

Um dos grandes ídolos do esporte brasileiro na atualidade, Gabriel Medina iniciou ainda na adolescência sua trajetória vitoriosa no surfe, até tornar-se, em 2014, o primeiro brasileiro a conquistar o título do Circuito Mundial de Surfe (WCT).

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Hanan Khaled Daqqah Hanan

A menina de 12 anos morava com a família em Idlib, no nordeste da Síria, um dos palcos da guerra civil no país. Após viver em um campo de refugiados na Jordânia, chegou ao Brasil e, desde então, reside em São Paulo com seus parentes. A mãe de Hanan está grávida e ela vive a expectativa do nascimento de seu primeiro irmão brasileiro.

Adriana Araújo

É a única mulher brasileira medalhista olímpica no boxe, com o bronze conquistado há quatro anos, na categoria até 60 kg, em Londres. A medalha da pugilista baiana de 34 anos marcou o centésimo pódio do Brasil nos Jogos Olímpicos.

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Ângelo Assumpção

Uma das promessas brasileiras na ginástica artística, Ângelo Assumpção é especialista em salto e solo, e integra a seleção brasileira. O atleta de 19 anos venceu o preconceito sofrido em um episódio de bullying na internet e hoje mostra porque valeu a pena acreditar no sonho do esporte.

Paula Pequeno

Melhor jogadora dos Jogos Olímpicos Pequim 2008, a bicampeã olímpica Paula Pequeno defende atualmente a equipe Brasília Vôlei. A ponteira de 34 anos teve uma trajetória vitoriosa na seleção brasileira e em equipes da Rússia e Turquia.

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Aurilene Vieira de Brito

Diretora da Escola Estadual Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves (PI), um dos 30 municípios do Brasil com o pior do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a professora piauiense Aurilene Vieira de Brito transformou sua instituição em uma das melhores no ensino médio no país, após conquistar dezenas de medalhas em competições de matemática e química.

Vanderlei Cordeiro de Lima

Hoje com 46 anos, protagonizou um dos momentos mais marcantes da história dos Jogos Olímpicos. Ele liderava a maratona, em Atenas 2004, quando, a seis quilômetros da chegada, foi derrubado por um manifestante religioso, mas voltou à prova e conquistou o bronze. Pela demonstração de espírito olímpico, recebeu a medalha Pierre de Coubertin.

“Enquanto ex-atleta e medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, é de um grande privilégio participar deste momento. Algo diferente, mas grandioso, esse de carregar o maior simbolismo da Olimpíada. E nesse tour que a tocha vai fazer já começaremos a contagiar o país para essa grande festa que vamos realizar. Enquanto eu estiver carregando este grande símbolo por Brasília, eu espero com muita alegria e emoção poder compartilhar com as pessoas ao meu redor esse sentimento único”, disse Vanderlei.

Gabriel Hardy

Aos 16 anos, Gabriel Hardy acumula prêmios e conquistas, como o Campeonato Brasileiro juvenil e o terceiro lugar no Sul-Americano de caratê. Aluno da rede pública estadual de Sobradinho, o atleta é agente jovem Transforma, programa educacional que leva os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 às escolas.

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