Drauzio Varela, em sua coluna na “Folha”, com o ótimo e certeiro título de “Fascismo em Nome de Deus”, disse tudo sobre as ameaças de religiosos à decisão da presidente Dilma em sancionar o Projeto de Lei que garante o atendimento imediato em hospitais de vítimas de violência sexual.
“Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos decididos a impor suas idiossincrasias e intolerâncias em nome de Deus? Em que documento está registrada a palavra do Criador que os nomeia detentores exclusivos da verdade? Quanto sofrimento humano será necessário para aplacar-lhes a insensibilidade social e a sanha punitiva?”, escreveu Drauzio.
Já escrevi várias vezes aqui sobre o absurdo de permitir que políticos usem suas convicções religiosas para decidir a vida do país inteiro. Mas a reação do Pastor Marco Feliciano à decisão de Dilma mostra que alguns ainda insistem em confundir as coisas.
As palavras de Feliciano são asquerosas e absurdas. O deputado – e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados – diz que o projeto possibilitará que mulheres que engravidaram após uma relação sexual sem consentimento, “porque estava com dor de cabeça”, façam aborto.
“Esse projeto, além de ser para vítima de estupro, também fala de sexo sem consentimento, profilaxia da gravidez, como se gravidez fosse doença. Uma mulher grávida de dois meses dizendo ao médico que o marido fez sexo à força, ou ela não queria porque estava com dor de cabeça? Aborto feito. Não há como comprovar que o sexo foi sem consentimento.”
Repetindo: são palavras do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Não dá para aguentar mais o obscurantismo e intolerância de servidores públicos que não entendem a diferença entre defender suas convicções religiosas e achar que elas se aplicam a toda a sociedade.
POR ANDRE BARCINSKI
Fonte: Folha