Felipe Antunes se junta ao rapper Xis e canta a tristeza da escravidão na nova “Modelo Guanabara”

Ultimamente nós temos falado bastante a respeito da banda brasileira Vitrola Sintética.

no Tenho Mais discos que Amigos

Jackeline Stefanski

Desde lançamento de clipe até uma colaboração internacional iniciada no Grammy, o grupo tem feito bonito em trabalhos que chamam a atenção tanto aqui dentro quanto em outros cantos do globo.

Foi justamente pensando nessa troca de ideias entre línguas, estilos e países que o vocalista Felipe Antunes convidou uma série de músicos estrangeiros para “Modelo Guanabara”, primeiro single do seu novo livro-álbum solo, CRU, a ser lançado no dia 18 de Agosto no SESC Avenida Paulista.

Pois bem, hoje temos o prazer de promover a estreia da canção por aqui e ela conta com o violoncelista holandês Tjalle Rens (que aparece em quase todo álbum), a cantora moçambicana Lenna Bahule, o artista angolano Nastio Mosquito, o rapper Xis, a cantora Kika, o violonista brasileiro Fred Martins e a leitura de um poema de sua própria autoria por Oswaldo de Camargo, nascido em Bragança Paulista onde Felipe foi criado, há 82 anos.

“Modelo Guanabara” foi inspirada no livro de Abdias Nascimento chamado O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado, e o poema “Em Maio”, gravado na faixa, sugere a não abolição da escravatura e a manutenção do Genocídio do Negro no Brasil de hoje em dia.

A canção foi gravada em Portugal, finalizada no Brasil, já está em todas as plataformas digitais e pode ser ouvida logo abaixo.

Divirta-se!

Imagem: Vi Shows

Modelo Guanabara

(Felipe Antunes / Jackeline Stefanski / Xis)

O transe do cavalo / O transe da cavala
A pata e o suor / A pata e o suor
A força do acossado / A força da acossada
O Deus raça maior / A Deusa (Adeus) raça maior

Ciata é nossa Tia
De santo a mãe falou
Branca a fantasia
Na casa do Sinhô
O negro é poesia
Fetiche de patrão
Matéria de pesquisa
Viveiro-alçapão
Assim disse Abdias
Nascimento acabou
Brinca-se alforria
Na casa do Sinhô
Colônia e propriedade
Transcontinental
Imóvel liberdade
De branco ou de avental
É curiosidade
Pra peça de escritor
É oportunidade
(Cadê o seu valor?) Labor Proprietário-otário-labor
Salve Carolina
Jesus do Criador
Teresa de Benguela
Mahin Luisa flor
Brinda-se alforria
Pro negro que aguentou
O transe do cavalo / O transe da cavala
A pata e o suor / A pata e o suor
A força do acossado / A força da acossada
O Deus raça maior / A Deusa (Adeus) raça maior

Em Maio (Oswaldo de Camargo)

Já não há mais razão para chamar as lembranças
e mostrá-las ao povo
em maio.
Em maio sopram ventos desatados
por mãos de mando, turvam o sentido
do que sonhamos.
Em maio uma tal senhora Liberdade se alvoroça
e desce às praças das bocas entreabertas
e começa:
“Outrora, nas senzalas, os senhores…”
Mas a Liberdade que desce às praças
nos meados de maio,
pedindo rumores,
é uma senhora esquálida, seca, desvalida
e nada sabe de nossa vida.
A Liberdade que sei é uma menina sem jeito,
vem montada no ombro dos moleques
ou se esconde
no peito, em fogo, dos que jamais irão
à praça.
Na praça, a Esperança se encolhe
ante o grito “Ó bendita Liberdade!”
E esta sorri, e se orgulha, de verdade,
do muito que tem feito…

Ficha Técnica

Felipe Antunes: voz
Tjalle Rens (Holanda): violoncelo

Participações
Oswaldo de Camargo (Brasil – voz)
Xis (Brasil – voz)
Nastio Mosquito (Angola – voz)
Kika (Brasil – voz)
Lenna Bahule (Moçambique – voz)
Fred Martins (Brasil – violão)
Maria Eugênia Cirino Cardoso (tia Geni – Brasil): introdução – Cantiga popular de lavoura

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