Reunindo ritmo e ancestralidade, no dia 01 de dezembro, a 2ª edição do Fórum Tambor e Educação transformou a Fábrica de Cultura do Jardim São Luís, na Zona Sul de São Paulo, em um local de acolhimento e encontro para sete grupos de tambores e quilombolas da Paraíba, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e também da capital paulista, além de doze mestres de todo o Brasil. Realizado pelo grupo Umoja em parceria com a Macambira Sociocultural, o evento teve como tema ‘Como o seu tambor educa?’, que tem como proposta conectar o marco dos 20 anos da lei 10.639/03 com as manifestações de cultura popular que nascem dos tambores e são realizadas por estes grupos e mestres nas escolas públicas e comunidades dos seus e de outros território.
O Fórum foi marcado pela apresentação e integração dos grupos que transmitiram não somente seus batuques, mas também a história e as tradições de suas comunidades que, querendo reafirmar o toque na força do encontro das ancestralidades e da vida como potência criativa, serviu como uma forma de integração e reconhecimento dos coletivos que não conseguiam se conhecer durante as apresentações da Noite dos Tambores.
Além das apresentações e dinâmicas, o encontro foi marcado pela mandala dos saberes e fazeres, construída ao longo das apresentações de cada grupo/mestre com objetos significativos que dialoguem com suas histórias, fortalecendo ainda mais os laços.
“Este ano estamos celebrando dez edições da Noite dos Tambores. A primeira foi em 2011. Teve uma parada por conta da pandemia, e esta é a primeira edição pós-pandemia que começou com articulação dos grupos ao longo do ano para que tenham agenda e consigam estar aqui no festival e participem do Fórum para que eles se conheçam e se conectem e amanhã, no festival, não sejam mais estranhos entre si. Essa oportunidade de se conhecer, se conectarem e construir uma rede é aqui”, explicou Débora Venâncio, Gestora de projetos sociais e Sócia da Macambira Sociocultural.
Para Alânia Cerqueira, Gestora de Projetos Sociais e fundadora da Macambira, existia uma ausência de espaço de diálogo para os grupos que participam do evento, e segundo ela, essa ausência foi criando uma angústia dentro do Umoja, criadores da Noite dos Tambores, que sentiam a necessidade de conhecer ainda mais todos que passam pelo festejo. “A gente procurou entender essa ausência de espaço de diálogo dos grupos que vinham se apresentar. Eles vinham, se apresentavam, a gente fazia toda uma articulação com passagem, hospedagem, alimentação e eles iam embora e muitas vezes não sabíamos quem eram. Então falamos, ‘não, precisamos de um espaço’”.
A denominação “fórum” ainda está em debate, mas para um dos mestres convidados, o baiano Gabi Guedes, o nome pouco importa; o momento foi de encontro com grandes referências musicais. “Foi um momento super maravilhoso para mim ter encontrado várias referências, pessoas que eu sigo no meu dia a dia e venho seguindo para fortalecer a minha musicalidade e ancestralidade.”
Além de Guedes, os mestres Salloma Salomão, Sapopemba, Vitor Trindade, Caçapava, Spirito Santo, Alfredo, Penedo, Poeira e Rabi estavam presentes para fazer do fórum um momento que foi além de uma reunião de grandes nomes e grupos de tambores, mas um encontro para firmar ainda mais a importância de se ter conhecimento da sua própria história.
Para além de ser uma forma de encontro com a ancestralidade, a manifestação cultural dos tambores serve como uma forma de educação e resistência dentro das periferias e quilombos por todo o Brasil. Para o Mestre Rabi, educador social e um dos criadores da Noite dos Tambores, apesar de ser difícil falar sobre tambor, por conta de todo preconceito, é necessário resistir. “Eu acho que termos essas várias manifestações juntas de cultura popular e cultura brasileira que tenha tambor, trazendo essa coisa da ancestralidade, é importante porque a gente continua mantendo um legado de que os tambores fazem parte do nosso convívio, da nossa vida. Engrandece e enriquece nossa comunidade. Nosso povo preto.”