Por Stephanie Nebehay
MONTREUX, Suíça, 10 Jul (Reuters) – Gilberto Gil apresentou na noite desta terça-feira, no Festival de Jazz de Montreux, alegres músicas de inspiração africana, apesar das suas alusões à pobreza, à escravidão e a uma dolorosa reconciliação.
O espetáculo “Viramundo”, com a participação dos músicos sul-africanos Vusi Mahlasela (guitarra) e Paul Hanmer (piano), funciona como uma espécie de trailer para um documentário ainda inédito sobre o cantor e compositor baiano.
As quase duas horas de apresentação dele no Auditório Miles Davis, em Lausanne, tiveram também a participação da orquestra suíça Lausanne Sinfonietta e dos músicos brasileiros Gustavo Di Dalva e Sérgio Chiavazzoli.
“Somos africanos no Brasil, especialmente quando se trata da música. Já somos muito africanos no Brasil”, disse Gil à Reuters, horas antes do show, no chalé do fundador do festival, Claude Nobs.
“O que cantamos, nossos temas, temos muitas coisas em comum, como a situação de apartheid, a fome, a pobreza, a submissão, a humilhação, a exploração, tudo isso. Os escravos negros no Brasil passaram pela mesma coisa que as tribos precisaram passar quando trabalhavam nas minas de ouro da África do Sul.”
Apresentando canções como “Ba Kae”, “Lamento Sertanejo” e “Raça Humana”, Gil e Mahlasela fizeram o show de abertura da noite, antes da cantora norte-americana Melody Gardot.
Essa foi a décima participação de Gil no festival de Montreux, um dos mais prestigiosos do mundo.
Desta vez, ele chegou mais cedo à Suíça, e no fim de semana passado foi a um estúdio local para gravar dez músicas para a trilha do documentário “”Viramundo – Uma Viagem com Gilberto Gil”, que acompanha uma turnê dele pelo Hemisfério Sul, passando por Brasil, África do Sul e Austrália, além de abordar questões raciais.
O filme de 95 minutos, dirigido por Pierre-Yves Borgeaud, tem estreia prevista para 2013 na Suíça, França e Bélgica. Borgeaud já havia abordado um tema semelhante no seu “Retorno a Gorée”, com o cantor senegalês Youssou N’Dour.
Gil, que completou 70 anos em junho, disse que provavelmente a trilha sonora do documentário será lançada como um produto independente, daí a necessidade das gravações em estúdio.
No chalé de Nob, Gil encontrou alguns objetos que o fizeram recordar parte dos seus 50 anos de carreira, caso de um quimono vermelho e florido que pertenceu a Freddie Mercury, e que está protegido por um vidro.
“Estive a primeira vez aqui em Montreux quando o Queen (banda à qual Mercury pertenceu) estava gravando seu segundo álbum, em 1978. Eles contrataram um estúdio nas montanhas durante todo o festival, e ficaram gravando aqui. Uma noite, nós dois fomos ao mesmo restaurante e trocamos um aperto de mãos.”
A turnê europeia de Gil começou por Londres e já passou por Bruxelas. Ainda há etapas previstas na França, Itália, Alemanha e Espanha.
Fonte: Reuters