Governador manda apurar se policiais abusaram em prisão de palhaço

Leonides Quadra foi detido na sexta (14) durante apresentação no Paraná. Artista declarou que não quer que policiais sejam punidos, mas preparados.

Por Fabiula Wurmeister Do Gi

O governador do Paraná, Beto Richa determinou nesta terça-feira (18) a abertura de um inquérito para apurar se houve abuso de autoridade por parte dos policiais militares na abordagem e detenção do palhaço Tico Bonito, em Cascavel, no oeste do estado, durante uma apresentação na sexta-feira (14).

A assessoria de imprensa do governador em nota publicada na Agência Estadual de Notícias afirma que “segundo relatos recebidos pelo governador, o palhaço foi detido quando fazia uma apresentação em uma praça da cidade e teria dito que a PM ‘só protege burguês e o Beto Richa’. Uma equipe de policiais que passava pelo local considerou a referência um desacato à PM.”

Ainda conforme a nota, Richa declarou que defende a liberdade de expressão e não vê nas declarações do palhaço “qualquer sentido de desacato”. “Quero uma apuração transparente e sensata do ocorrido. O direito de opinião e crítica deve ser respeitado, ainda que a pessoa não tenha razão”, destacou o governador.

A ordem para que a apuração seja feita foi repassada ao comandante geral da Polícia Militar no Paraná, coronel Maurício Tortato. “A PM tem sido muito importante para a melhoria da segurança pública dos paranaenses e um fato lamentável como esse não pode desviar o foco dos policiais, que é o policiamento preventivo e comunitário”, reforçou Richa.

O artista Leonides Carlos Taborda Quadra replicou a nota nas redes sociais. E, ao comemorar a decisão do governador disse não querer a punição dos policiais. “Eu nãoquero que os policiais sejam punidos. Quero que eles sejam melhores preparados. Distribua melhor o contingente policial, para que os bairros tenham a mesma qualidade desegurança quanto o centro.”

Repercussão
Mais cedo, Quadra havia dito ao G1 estar contente com as reações em relação ao caso e os apoios recebidos de várias entidades e artistas. “As pessoas engajadas estão vendo a situação correta. Estou muito contente com isso”, declarou.

Sobre o episódio, afirmou que não houve desacato e que a abordagem foi exagerada. “Não me dirigi a um ou outro policial especificamente, não falei o nome de nenhum deles. Os policiais estavam passando, não estavam presentes na apresentação. Não desacatei ninguém. A crítica foi um reflexo da realidade que a gente vive. Na hora as pessoas que estavam vendo a apresentação também reagiram contra a prisão.”

Trabalhando como artista desde 1996 e como palhaço desde 2003 contou nunca ter passado por uma situação semelhante antes. “A arte alternativa é política. As críticas cabem a todos. Não chamei ninguém de palhaço. E, mesmo que eu tivesse chamado, palhaço para mim é um elogio. Nada justifica a agressão. Os policiais poderiam ter agido diferente. Eu pararia, pensaria no que disse e poderia ter pedido desculpas”, comentou.

Encaminhado ao Fórum Estadual de Justiça, Quadra assinou um Termo Circunstanciado. Ele terá que comparecer a uma audiência no dia 14 de setembro no 3º Juizado Especial Criminal, que deve julgar o caso. O crime de desacato é considerado de baixo potencial ofensivo, com pena que pode variar de seis meses a dois anos de detenção.

O caso
Quadra foi detido durante a apresentação que fazia no Centro de Cascavel. “Quando [os policiais] estavam passando ele [o artista] disse que lá vinham os palhaços do governador que só sabem cuidar de quem tem dinheiro”, apontou o tenente da PM, Roberto Tavares.

Como o palhaço se recusou a entrar no carro da PM, os policiais pediram reforço. Três equipes e mais policiais da cavalaria foram chamados. “A população que estava no local tentou impedir que ele fosse preso, defendendo o palhaço”, disse Tavares.

Na ocasião, o artista contou que ficou machucado durante a ação. “Eles agiram com agressividade, as crianças que estavam lá se assustaram e começaram a chorar. A atitude deles não muda nada, só reforça o que eu estava falando”, ressaltou.

A PM disse que os policiais usaram a força necessária. “Não agiram com truculência, mas se ele comprovar que foi agredido pode fazer uma reclamação formal no batalhão”. Com relação ao público, Tavares afirmou que a maior parte dos espectadores era de adultos, uma vez que a situação ocorreu em horário escolar.

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