Herdeiro de Mãe Bernadete vai contratar perícia particular para investigar assassinato

Escritório do advogado Hédio Silva Jr. passará a atuar em defesa dos interesses da família da líder quilombola

A família da líder quilombola Bernadete Pacífico, que foi assassinada a tiros em agosto deste ano, irá contratar peritos particulares para revisar todo o trabalho de perícia do local do crime, o laudo de sua morte e os protocolos de proteção que vinham sendo adotados antes da execução da sacerdotisa.

As medidas foram definidas após o físico nuclear Jurandir Patrocínio, único filho vivo de Mãe Bernardete, contratar o escritório do advogado Hédio Silva Jr. para defender os interesses de sua família e do Instituto Mãe Bernadete Pacífico, que será criado para preservar a memória da liderança quilombola.

“Mãe Bernadete tem uma trajetória ímpar na luta do povo preto, quilombola e de religiões afro por dignidade e justiça. Todos aqueles indivíduos e gestores que, por ação ou omissão, provocaram direta ou indiretamente seu suplício, ou pretendem locupletar-se com sua morte, responderão nos exatos termos da lei”, afirma o advogado.

“É uma honra, para um filho de Xangô, defender o legado de uma grande brasileira quilombola como ela”, diz ainda Silva Jr., que também é coordenador do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro).

Antes de sua execução, Mãe Bernadete já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo da Bahia. Câmeras foram instaladas em sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

A sacerdotisa foi morta aos 72 anos de idade. Ela estava junto dos netos quando dois homens chegaram na casa ao lado do terreiro de candomblé que comandava em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e a assassinaram com 14 tiros.

A luta contra os ataques a terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana na região se intensificou após o assassinato de seu filho mais velho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017.

Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia e defendia a titulação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. O caso segue sem solução após três anos de investigação da Polícia Civil e outros três da Polícia Federal.

Atualmente, Jurandir Patrocínio cuida dos três filhos do irmão assassinado e é responsável pela comunidade quilombola. É ele também quem lidera os esforços para o lançamento do instituto em memória à sua mãe.

+ sobre o tema

FGV suspende aluno por 3 meses após ofensa racista

O acusado teria compartilhado uma foto da vítima em...

Racismo a Balotelli gera revolta; fãs pedem saída da seleção

O novo episódio de racismo no futebol europeu,desta vez...

Zara no Ceará: vendedores de outras lojas de varejo confirmam uso de código para ‘clientes suspeitos’

"Comparecer ao setor infantil", "Vendedor X, corredor 8", "Atenção,...

Campanha contra o racismo dá voz e corpo ao preconceito

Objetivo de ONG australiana é mostrar como o "racismo...

para lembrar

ONU alerta para lacunas nos processos judiciais de racismo em Portugal

O Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas está...

Esta estampa da Farm levantou um novo debate sobre racismo no mercado da moda

Após reação indignada dos consumidores, marca pediu desculpas e...

Juventus de Turim condena racismo

Fonte: FutNet - Um dia após a derrota para o...

Sete em cada 10 admitem diferença de tratamento para negro e branco

Cerca de 125 milhões de brasileiros reconhecem o tratamento diferente...
spot_imgspot_img

Rio de Janeiro se tornou resort do crime organizado

Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal retomou o julgamento da ADPF 635, a chamada ADPF das Favelas, pela qual se busca a elaboração de...

O silêncio que envergonha e a indignação que nos move

Há momentos em que o silêncio não é apenas omissão, mas cumplicidade. E o que aconteceu com Milton Nascimento, nosso Bituca, na cerimônia de premiação...

O mínimo a fazer no Brasil

Defender e incentivar ações afirmativas pela diversidade e equidade étnico-racial é o mínimo a fazer num país que por quase 400 anos baseou sua economia no...
-+=