Organizado pelo Congressional Black Caucus Foundation (CBCF), Brazil-US Business Council, Câmara Americana de Comércio (AmCham-SP), com apoio do US-Commercial Service e do Integrare (Centro de Integração de Negócios), ocorreu nos dias 13, 14 e 15 de abril, em São Paulo, o encontro ‘‘Afro Brazilian-African American Business Summit”, que teve como tema Provendo Caminhos para a Inclusão Social e Econômica. A missão americana, liderada pelo congressista William J. Jefferson, foi composta por sete parlamentares, empresários, economistas e especialistas ligados ao tema da inclusão socioeconômica dos afrodescendentes dos EUA. Várias dezenas de empresários e líderes sociais afro-brasileiros, assim como representantes de corporações e instituições brasileiras de vários estados participaram das atividades do encontro.
Por Sueli Carneiro
Esse seminário, que incluiu uma série de conferências e debates, assim como uma bem-sucedida ‘‘rodada de negócios”, foi a continuidade de uma agenda de aproximação de afro-brasileiros e afro-americanos com vistas ao apoio mútuo, troca de experiências e identificação de oportunidades de negócios através de parcerias. Um evento que responde às expectativas de décadas do empresariado afro-brasileiro que aguardava por parcerias estratégicas com a comunidade político-empresarial afro-americana.
Os anos de espera se mostraram, na realidade, o tempo necessário para que condições políticas, econômicas e institucionais fossem criadas de forma a permitir que agora passos concretos iniciem uma jornada na direção da integração dessas duas comunidades.
Isso se torna tão mais relevante quando considerado que a lógica das elites brasileiras, inspirada por idéias preconceituosas, despreza o potencial econômico e consumidor de uma comunidade afro-brasileira estimada em 76 milhões de pessoas. Conforme percebido com grande sensibilidade pela consultora do Banco Mundial Jeanette Sutherland, no estudo Afrodescendentes, Discriminação e Exclusão Econômica na América Latina, ‘‘as escolhas feitas pela elite dirigente brasileira em busca do desenvolvimento capitalista e da inclusão na economia mundial foram feitas às expensas da maioria da população, em particular dos afro-brasileiros…”
O mundo corporativo brasileiro, assim como nos EUA, está se organizando para o novo momento e tendências do mercado. O Integrare é uma organização brasileira que, adaptando o modelo da ONG americana National Minority Supplier Development Council às condições locais, reúne grandes e médias corporações nacionais e multinacionais interessadas em praticar compras competitivas com benefícios para a inclusão socioeconômica e, assim, promover o empreendedorismo, o desenvolvimento empresarial, a inclusão nos negócios e a auto-sustentabilidade econômica entre grupos sociais historicamente desprivilegiados pelos preconceitos. Infelizmente, o setor público brasileiro ainda não atentou aos bons exemplos, no particular, do setor público americano, que fortemente exercita e sinaliza à sociedade sobre a importância das políticas de ações afirmativas também nas licitações e compras públicas e privadas.
Nas avaliação empreendida nesse seminário sobre as oportunidades econômicas e desafios para as populações afrodescendentes do Brasil e EUA, estima-se em US$ 700 bilhões o conteúdo econômico representado pela junção de afro-brasileiros e afro-americanos, algo próximo de um terço do PIB europeu. Somente o crescente baying power afro-americano atualmente equivale ao PIB brasileiro. Do lado dos afro-brasileiros, o maior ativo econômico disponível está numa massa demográfica de 76 milhões de pessoas que anseiam por empregos e propostas de geração de renda que lhes permitam realizar sua plena cidadania e suas potencialidades de consumidor e empresários.
Condições históricas e culturais compartilhadas por essas duas comunidades alicerçam essa visão. O processo de regionalização dos mercados oferecem novas condições econômicas que permitem sonhar com a perspectiva, agora bastante realista, de constituição de uma aliança econômica estratégica afro-americana que possa inserir nossos povos no mapa econômico globalizado e conduzir as nossas comunidades a um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
A importância regional de Brasil e EUA tornam as comunidades afros desses países lideranças estratégicas também para os povos afro-latino-americanos e caribenhos, abrindo assim novas possibilidades econômicas para o conjunto dos 150 milhões de afro-latino-americanos.
As condições provocadas pela globalização e pelo ativismo dos afrodescendentes espalhados pelo mundo vêm criando um ambiente favorável para a integração sociopolítico-econômica da diáspora africana. É chegada a hora dos nossos homens e mulheres de negócios fazerem a sua parte.