Mestra Justina Ferreira da Silva, mulher quilombola que mantém tradições e memórias através da cultura alimentar em Mato Grosso

Justina Ferreira da Silva, é uma das 75 condecoradas com o título de mestre da Cultura do Estado de Mato Grosso, concedido através do Edital Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite (Lei Aldir Blanc), da Secretaria de Cultura, esporte e lazer de Mato Grosso (SECEL-MT).

A homenagem em vida é o reconhecimento à força que Justina carrega e propaga ao resguardar a cultura alimentar da Comunidade do Ribeirão do Mutuca, uma das 06 localidades que formam o Território Quilombola de Mata Cavalo, localizado no munícipio de Nossa Senhora do Livramento em Mato Grosso.

Dona Justina, é filha de Rosa Domingas de Jesus e Miguel Domingos Ferreira de Jesus, bisneta de Vicente Ferreira Mendes, Neta de Mácario Ferreira de Jesus, casada com João Pedro da Silva, ela é trabalhadora rural, cozinheira, doceira, mãe de 07 filhos, sendo 04 homens e 03 mulheres, e com  a perca de um filho, ficaram 06 filhos, e conhecida como “São Benedita” pois assim como o Santo negro, é cozinheira por ofício. São mais de 50 anos utilizando gêneros alimentícios produzidos na própria comunidade para demarcar a identidade quilombola, o pertencimento territorial, e dessa forma manter a história, códigos alimentares, tradições e inovações.

A cultura alimentar é uma das formas de se reconhecer processos que envolvem as identidades de diferentes grupos. Através das receitas e atividades coletivas como o ‘Muxirum’ (um trabalho coletivo que a comunidade organiza para plantar a banana e carpir o roçado), Justina repassa para as novas gerações a herança de seus antepassados para a manutenção da vida e sustentabilidade do local, já que também é ela quem comanda a cozinha da tradicional Festa da Banana. De acordo com a homenageada, seu Bisavô Vicente Ferreira Mendes e avô, conhecido como Macário faziam melado e rapadura, inclusive o famoso açúcar de barro (açúcar mascavo) em especial para as festas de São Benedito, Festa de São Gonçalo e Festa do Congo, a qual originou-se na comunidade Mutuca, sendo esta produção repassada para seu pai, Miguel Domingos Ferreira de Jesus, que deu seqüência a tradição familiar que hoje é realizada por ela.

O projeto As Mãos Beneditas de Justina, é coordenado pela líder quilombola Laura Ferreira, também da Comunidade Mutuca – Território do Mata Cavalo e conta com a direção geral de arte da artista visual Paty Wolff. A proposta está constituindo um acervo com depoimentos, fotografias da comunidade e vídeos como memorial dos saberes e fazeres e em homenagem e comemoração aos 65 anos da mestra Justina. Todo esse conteúdo será entregue ao público através de um documentário resultante de uma capacitação que será realizada pela equipe do projeto dentro da comunidade de Mata Cavalo para um grupo de dez jovens; também serão realizadas fotografias que comporão 01 um livro e uma exposição em uma plataforma virtual, sob curadoria de Gilda Portella. A equipe do projeto já esteve na Comunidade Mutuca – Território Mata Cavalo realizando o registro de um Muxirum, pois o mesmo acontece em data específica à cada ano. Fazem parte do da produção audiovisual a diretora e roteirista Isabela Ferreira da Silva, Cauê Onirê, Gabriel Paulo Oliveira da Silva, Anna Carolina Mello, Lucas Bezerril, João Almeida, Luiz Henrique Nogueira, Lidiane Alves Lopes; a responsável pela curadoria da exposição é Gilda Portella, Téo Miranda da Editora Sustentável realiza a Direção de fotografia e edição do livro.

A condecoração traz além do reconhecimento pessoal, a oportunidade de expandir o conhecimento acerca das comunidades quilombolas existentes no estado de Mato Grosso e a força feminina que as movimenta. De acordo com a coordenação do projeto, pesquisas recentes têm apontado que existe um silenciamento quanto a historiografia dessas territorialidades na mídia, nos livros didáticos, dentre outros.

Além de trazer a público a existência desses territórios, a proposta reforça também a importância dos fazeres quilombolas, onde se poderá reconhecer as  boas práticas agroecológicas e a valorização desta cultura, em todos os aspectos, dessa forma, a necessidade da manutenção dessas terras pelas comunidades que nelas residem.

 

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Fonte: Por Naine Terena De Jesus, da Revista Camalote

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