Me gritaram: negra!
e muitos falaram que não, que era parda.
Me gritaram: negra!
e alisaram o meu cabelo.
quanto mais liso, mais aceita.
aí é só não usar vermelho
e não ser escandalosa igual preto.
Me gritaram: negra!
alguns falaram que eu nem não sou tão preta.
me gritaram: negra!
E esconderam toda minha história
Me gritaram: negra!
E eu chorei, porque queria ser parda.
Porque mesmo tendo 132 anos de abolição
me sinto escrava,
padronizada, estereotipada e
hipersexualidade ?
Porque a carne mais barata, sempre é a minha carne negra?
Porque esconderam nossa história?
Aprendi sobre o nosso ouro,
nossos antepassados,
sobre nossas lutas,
E que não teve compaixão
Mas sempre existiu Dandaras!
em contrapartida, muitos morrem sendo capitão do mato.
Não sou feia, não sou estranha
Não sou morena, não sou parda.
Somos livres por Zacimba Gaba!
Não tentem apagar os fatos!
desvalorizam nossa cor
mas gostam de um sexo com a “mulata”
Falam de consciência negra.
Mas ainda sentimos as chibatadas.
Me gritaram: Negra!
E escutei ainda mais forte “é parda!”
Me gritaram: Negra!
E eu quis recuar.
Me gritaram: Negra!
E muitas coisas não entendi.
Me gritaram: Negra!
E escutei “negro é feio!” “Vc é morena!”
Me gritaram: Negra!
E eu fiquei chocada.
Até que aprendi com Djamila que não sou mulata,
Garcia deixou sua carta,
Sueli me ensinou sobre desigualdade,
Mariele presente!
Bia a importância de ter consciência de classe e raça
Diário de uma favelada fez eu ficar inspirada.
Aí me gritaram: Negra!
E eu me movimentei, junto com a estrutura da sociedade.
Não precisaram mais me gritar Negra
pois já entendi o meu lugar de fala.
Inspiração para a criação da poesia: Poema musicado de Victoria Santa Cruz – me gritaram negra.