Minorias lutam por lugar nas estatísticas

Gays, umbandistas e negros se mobilizam para incentivar mais pessoas a se declararem pertencentes a esses grupos de minorias

Principal pesquisa realizada pelo IBGE, envolvendo 240 mil profissionais, Censo começa hoje no país

Para a maioria dos brasileiros -que a partir de hoje receberão pesquisadores do IBGE em suas casas-, responder ao Censo é apenas um dever cívico. Para alguns, no entanto, aparecer nas estatísticas oficiais é uma questão de sobrevivência política.
Com esse objetivo, associações de gays, umbandistas, candomblecistas ou parte do movimento negro se mobilizam em campanhas nas redes sociais para que mais pessoas declarem pertencer a esses grupos.
O Censo é a mais importante pesquisa do IBGE. Pelo custo e tamanho -mobiliza 240 mil profissionais-, é feito apenas a cada dez anos.
Fundamental na elaboração de políticas públicas, é por meio do Censo que sabemos o número da população e as características dela, como religião, idade, deficiência, trabalho, entre outras.

QUESTÕES INÉDITAS
Neste ano, pela primeira vez, serão investigados também línguas indígenas, brasileiros morando no exterior e cônjuges do mesmo sexo.
Por causa do último quesito, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais lançou a campanha “IBGE. Se você for LGBT, diga que é”.
“Quem não existe não tem direito. Mesmo o Censo não investigando a orientação sexual, poder identificar cônjuges do mesmo sexo já é um avanço. Sabemos que muitos terão medo de se declarar, mas esperamos que ao menos 50 mil casais gays apareçam na pesquisa”, diz Toni Reis, presidente da ABGLT.
No caso das religiões de matrizes africanas, a mobilização ocorre porque o último censo detectou uma queda de 0,4% em 1991 para 0,3% em 2000 na proporção dos seguidores dessas crenças.
A diminuição foi atribuída ao crescimento dos evangélicos, mas também ao preconceito e sincretismo religioso.
“As religiões de matrizes africanas, por preconceito, ainda são associadas só a negros, pobres e analfabetos. Isso leva muitos a se dizerem católicos ou espíritas, em vez de umbandistas ou candomblecistas”, afirma Marcio Alexandre Gualberto, idealizador, no Coletivo de Entidades Negras, da campanha “Quem é de Axé, diz que é”.
Gualberto lamenta que o governo federal não tenha apoiado financeiramente a campanha, mas aposta nas redes sociais da internet para disseminar o lema.
Alguns videoclipes já estão no Youtube, como o da cantora umbandista Liz Hermann, com o refrão “diga ao Censo a sua religião”.
Esta não é a primeira vez que mobilizações desse tipo acontecem. Em 2000, parte do crescimento dos autodeclarados pretos (de 5% para 6,2% na década) foi atribuído à campanha “Não deixe sua cor passar em branco”.
Neste ano, um grupo negro de Alagoas, por exemplo, lançou o slogan “Censo 2010, assuma sua negritude”.

Fonte: Folha de São Paulo

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