A União de Negras e Negros Pela Igualdade (UNEGRO), entidade fundada em 1988, com longa trajetória na luta contra o racismo e suas múltiplas manifestações, comprometida com a cultura popular e de matriz africana, e defensora dos direitos da população pobre, negra e da periferia, vem a público manifestar solidariedade ao GRES Vai Vai e a sua comunidade, estendendo para todas agremiações carnavalescas e ao público folião paulistas, e também externar seu profundo respeito ao Carnaval, como uma das mais expressivas manifestações da cultura do povo brasileiro.
A Vai Vai foi covardemente atacada pelo Sindicato dos Delegados da Polícia Civil e por alguns deputados que se comportam cotidianamente como mercadores do ódio, pois se valem dessa retórica para arregimentar seguidores e garantir seus currais eleitorais. Compreendemos que a liberdade é o esteio fundamental para a arte cumprir seu objetivo precípuo de produzir formas, objetos e obras que expressam beleza, crítica, alegria e sonhos; valorizar o lúdico, a harmonia, a cultura; exprimir subjetividades contidas nas memórias individuais e coletivas. O cerceamento, embaraço, assédio, garroteamento das manifestações culturais e artísticas, como os desferidos contra a Vai Vai, merecem vigoroso repúdio de toda consciência democrática.
No caso em tela, há um inequívoco agravante: o racismo. Incomodou muita gente ver uma potente instituição negra, verdadeiro quilombo urbano, com forte poder mobilizador, levar à passarela uma mensagem crítica e altamente mobilizadora, ecoada por corpos negros nas periferias do país, com o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da rua e do povo, o Hip-Hop – Um manifesto paulistano”, baseado na obra Sobrevivendo no Inferno do Racionais MC’s que engaja a periferia, retrata uma importante face do protesto negro, instituído pelo movimento hip-hop, o qual foi homenageado pela Vai Vai.
Importante destacar que as denúncias contidas na obra homenageada, as denúncias proferidas pelo movimento hip-hop, pelos movimentos e juventudes negras, nas suas mais diversas formas de expressão (cultural, política, intelectual), têm consonância com a realidade concreta: muitas vezes a polícia leva terror, violência e morte à parcela pobre, preta, jovens das periferias. Tomemos como exemplo a Operação Escudo, iniciada em 02 de fevereiro do ano corrente, por ocasião do assassinato de um policial em Guarujá, até a data de hoje (17/02, quinze dias de operação) que executou 27 pessoas, além de registros de abordagens violentas, torturas e humilhações. Não há autorização na Lei e na Constituição para assassinatos, pancadaria e invasão de domicílios.
A UNEGRO denuncia o caráter hediondo da tentativa de associar a Vai Vai com o crime organizado, como represália à Escola. Setores da imprensa, da polícia e da elite paulistana reproduzem o terror e a criminalização centenária do samba e dos sambistas pretos. Até finais dos anos 60 do século passado, a polícia prendia batuqueiros no Centro de São Paulo (Praça da Sé) e os obrigava a doar sangue para obterem liberdade. Vil tratamento narrado por Seu Nenê da Vila Matilde, Toniquinho Batuqueiro, Hélio Bagunça, Mestre Feijoada, Seu Carlão do Peruche , em depoimento no “Samba e Cidadania para todos”, evento organizado pela UNEGRO nos finais da década de 1990.
A Vai Vai e o movimento hip-hop fazem jus às homenagens de amplas massas paulistanas, que trabalham, estudam, rezam, pagam seus impostos, se expressam culturalmente. A UNEGRO cerra fileira com as homenagens e conclama a manifestação popular com o mesmo teor.
Executiva Nacional da UNEGRO