Mundo: Câmara do Uruguai aprova projeto que descriminaliza o aborto

Agora, o projeto volta ao Senado, onde não deve ter problemas para sua aprovação final, já que o partido governista da Frente Ampla tem maioria absoluta

 

Por 50 votos a favor e 49 contra, a Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou, na noite desta terça-feira, um projeto de lei que descriminaliza o aborto até a 12ª semana de gestação,14ª em caso de estupro e prazo indeterminado em caso de risco para a saúde da mãe. O texto aprovado muda a proposta que já havia sido aprovada pelo Senado, em dezembro. Agora, o projeto volta ao Senado, onde não deve ter problemas para sua aprovação final, já que o partido governista da Frente Ampla tem maioria absoluta.

Se o projeto for ratificado, o Uruguai será o primeiro país da América do Sul a descriminalizar o aborto. A proposta do partido do governo foi rejeitada em duas oportunidades. A última delas, a denominada Lei de Saúde Sexual e Reprodutiva, foi vetada pelo ex-presidente Tabaré Vázquez, em 2008. O então presidente justificou sua decisão a “razões filosóficas e biológicas” e provocou uma crise em seu partido. O presidente José “Pepe” Mujica já anunciou que não vetará o projeto.

A Frente Ampla teve o apoio de um dos deputados do Partido Independiente (PI, de centro), Iván Posada, que compensou a perda do voto de um deputado governista, Andrés Lima, que foi autorizado pelo partido a votar contra a matéria. Tanto Frente Ampla quanto o Partido Colorado (de centro-direita) decidiram aplicar a disciplina partidária para o tratamento da matéria. A medida fez com que vários deputados declarassem antecipadamente a decisão de se retirar do plenário na hora da votação, para serem substituídos por seus suplentes.

Para seus defensores, a lei dará à mulher “as maiores garantias” para realizar o aborto, como afirmou Posada. Já os detratores, como o Partido Nacional, evocaram o “direito à vida” e “a defesa dos direitos humanos” para tentar derrubar a matéria. O texto do projeto estabelece que toda mulher “terá direito a decidir a interrupção voluntária de sua gravidez durante as primeiras 12 semanas do processo de gestação”.

Segundo o deputado governista Juan Carlos Souza, o projeto “não legaliza o aborto, mas abre uma instância importante para que as mulheres decidam livremente se vão abortar, com adequado apoio médico e legal, sem que sejam consideradas criminosas”. A líder do ONG Mulher e Saúde no Uruguai (Mysu, pela sigla em espanhol), Marta Aguñin, explicou que o projeto aprovado não descriminaliza totalmente a interrupção voluntária da gravidez porque obriga a mulher a apresentar-se perante um tribunal integrado por médicos e assistentes sociais, para explicar sobre a decisão de interrompê-la.

Aguñin argumenta que o tribunal “é moralizante” e determina que a mulher reflita durante cinco dias antes de autorizá-la a realizar o procedimento. Em nota, a líder do grupo afirma que ninguém garante que o sistema de saúde público ou privado esteja em condições de oferecer os serviços de aborto durante o período determinado pela lei. Se o processo demorar mais que o prazo estipulado, o aborto continuará sendo um delito e a mulher corre o risco de ser punida, destacou a nota. Pesquisa de opinião pública realizada pela consultoria Cifra, na semana passada, revelou que 52% dos uruguaios apoiam a iniciativa, que é rejeitada por 34%.

 

 

Fonte:  Gazeta do Povo 

+ sobre o tema

Sou cineasta negra e quero falar do racismo no audiovisual brasileiro

Há tempos, estamos na luta por outras narrativas possíveis...

A cultura dos concursos de Miss e os 30 Homens sobre nossos corpos

O concurso de miss, diversas vezes atacados pelas mais...

Defensoria desenvolve campanha que estimula a leitura de obras produzidas por mulheres negras

A Defensoria Pública do Estado do Piauí, juntamente com...

para lembrar

17 mulheres negras brasileiras que lutaram contra escravidão

As mulheres que foram escravizadas no Brasil contribuiram, e...

15 respostas para as questões mais frequentes direcionadas às feministas

Ser feminista é um trabalho de Sísifo. Você escreve,...

Hospital proíbe manobra de Kristeller e reconhece violência obstétrica

Um hospital público de São Paulo aboliu neste mês a...
spot_imgspot_img

Ministério das Mulheres lança guia sobre prevenção a feminicídios

O Ministério das Mulheres está divulgando uma cartilha do Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios, produzida em parceria com a ONU Mulheres, com o objetivo...

Câmara aprova pacote de medidas pelo direito das mulheres e combate ao feminicídio

A Câmara aprovou um pacote de 13 medidas que tem como foco os direitos das mulheres e o combate ao feminicídio. A sessão desta...

Namíbia elege socialista Netumbo Nandi-Ndaitwah a primeira mulher presidenta do país

A candidata do partido governista de centro-esquerda Swapo (Organização do Povo do Sudoeste Africano) e atual vice-presidenta da Namíbia, Netumbo Nandi-Ndaitwah, venceu as eleições...
-+=