Negras Empoderadas: mulheres bem-sucedidas criam grupo para combater discriminação

Iniciativa da empresária dos Racionais MCs e da consulesa da França tem 50 participantes

 por Juca Guimarães, do R7

Vivendo há três anos no Brasil, a consulesa francesa Alexandra Loras percebeu o quanto o racismo e a falta de oportunidades impactam na vida das mulheres negras. Muitas vezes de forma velada, algumas vezes, explícitas e violentas, as manifestações de menosprezo às mulheres negras no Brasil chocaram a diplomata, que decidiu criar um grupo de debates com mulheres negras bem-sucedidas e formadoras de opinião para debater o assunto, denunciar atos de racismo e resgatar o orgulho negro. O grupo foi batizado de “Negras Empoderadas” e a proposta é reunir argumentos e informações que sirvam de contraponto para a narrativa eurocentrista e estereótipos comuns na sociedade.

“A geladeira foi inventada por um negro, o marca-passo também foi inventado por um negro, a antena parabólica e o telefone celular também, muitas coisas importantes e de alta tecnologia foram inventadas por negros. Temos que compartilhar essas informações com as nossas crianças. Porque a ausência, na mídia, da nossa presença em cargos de liderança e de destaque faz com que 85% das crianças negras com menos de cinco anos de idade identifique a boneca branca como linda e boazinha e a boneca negra como a feia e a má”, disse a consulesa Alexandra, durante o encontro do grupo no último sábado, para comemorar o Dia Internacional das Mulheres.

O grupo foi criado em novembro, quando a consulesa conheceu a advogada e empresária Eliane Dias, presidente da produtora Boogie Naipe e mulher do rapper Mano Brown, dos Racionais MCs. Eliane já atuava como conferencista e ativista em defesa das mulheres nas periferias por todo País. Juntas, elas foram convidando outras mulheres.

 “Discutimos todos os assuntos relacionados às mulheres negras. Temos advogadas, professoras, jornalistas, empresárias, todas contribuindo e dividindo experiências. Discutimos a questão da gravidez da jovem negra, a violência contra a mulher, a falta de referências para negros, os motivos que levam a mulher negra à criminalidade”, disse. Umas das questões discutidas no grupo e que teve grande repercussão nas redes sociais foi a imagem da mulata, como objeto sexual exótico, na mídia durante o Carnaval. Pela primeira vez, o estereótipo foi questionado de forma contundente.

Para Eliane, o surgimento de mais grupos como o dela, em defesa dos direitos das mulheres, está relacionado ao acesso à universidade. “Com o ProUni, mais mulheres negras estão fazendo faculdade, estão estudando, estão discutindo e se empoderando. A gente entra com uma cabeça na faculdade e sai com outra. A maioria dos estudantes calouros em universidades é de mulheres, a maioria negra. Daqui a quatro anos, teremos uma geração ainda maior de mulheres negras empoderadas”, concluiu.

Por enquanto, o grupo  é fechado e novas participantes são convidadas por indicação de quem já está na lista. Não existe, porém, um número definido de participantes. O foco é a qualidade do conteúdo compartilhado e multiplicado.

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O grupo “Negras Empoderadas” é formado por profissionais bem-sucedidas e independentesJuca Guimarães/R7

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