Horas antes do início do Mês da Consciência Negra, o Brasil foi palco de mais um caso de racismo no futebol.
Na noite do último domingo (31), o preparador físico do União Esporte Clube, de Rondonópolis (MT), Jacques Douglas da Silva, registrou um boletim de ocorrência (BO) contra Anir Siqueira, presidente do Nova Mutum Esporte Clube.
Os dois clubes se enfrentaram em Nova Mutum (MT) pela Copa Federação Mato Grossense de Futebol. O time visitante venceu por 1 a 0 no estádio Valdir Wons.
Conforme relatado na súmula da partida, Jacques Douglas da Silva foi chamado de “negrinho vagabundo” pelo presidente Anir Siqueira.
“Ao pedir uma bola para o juiz do jogo para o aquecimento dos atletas do União Esporte Clube, o presidente do Nova Mutum Esporte Clube, que estava próximo, passou a ofendê-lo, dizendo: ‘Negrinho vagabundo, aqui você não tem bola nenhuma, não; e as bolas que você quer estão lá no campo; pode sair daqui, seu negrinho”, aponta o boletim de ocorrência.
Além do preparador físico, também consta na súmula da partida uma injúria racial contra um dos atletas do União EC, Ruan Bahia. Ele teria sido chamado de “macaco”, também por Anir Siqueira.
“Ressalto que o presidente do Nova Mutum, Anir Siqueira, apresentava sinais de embriaguez”, relatou o árbitro ao fim do jogo.
Natural de Realeza (PR), Anir Siqueira tem 49 anos, é dono de restaurante no Paraná e diretor da Cooperativa Brasil de Transportadores Rodoviários de Cargas (Brcoop).
O presidente do União EC, Reydner Souza, concedeu entrevista coletiva à imprensa local após a partida.
“Foi uma vitória triste”, definiu.
“Houve muita ofensa racial. Esse dirigente precisa responder criminalmente por seus atos. É uma vergonha, ainda mais no momento triste e difícil que o Brasil está passando.”
O Brasil de Fato tentou contato com o presidente do Nova Mutum EC, mas não foi possível obter retorno até o fechamento do texto. O clube ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.
Triste rotina
Conforme levantamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, os casos de racismo no futebol brasileiro cresceram 235% em seis anos.
Na semana passada, dia 28, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) puniu o presidente do Fast Clube (AM), Denis Cabral de Albuquerque, por discriminação contra uma integrante da arbitragem na partida contra o Penarol, pela Série D.
Albuquerque foi suspenso por 120 dias e terá que pagar multa de R$ 10 mil.
No dia 29, houve outro caso de racismo, desta vez pela Série B. Um torcedor do Cruzeiro (MG) foi filmado proferindo ofensas racistas contra um jogador do Remo (PA), que havia acabado de marcar um dos gols da vitória por 3 a 1, fora de casa. O Cruzeiro se posicionou imediatamente contra o racismo e em repúdio ao torcedor.
No domingo (31), pela Série A do Campeonato Brasileiro, um torcedor do Grêmio foi flagrado fazendo um possível gesto racista para um rival do Palmeiras, após derrota por 3 a 1 em Porto Alegre (RS).
O caso de racismo no futebol com maior repercussão este ano aconteceu em Brusque (SC), quando um dirigente local ofendeu o atleta Celsinho, do Londrina (PR), pela Série B. O clube catarinense não se solidarizou e ainda culpabilizou o adversário, que já havia sofrido injúrias raciais outras duas vezes no ano.
O Brusque foi punido com a perda de três pontos no campeonato, e hoje luta contra o rebaixamento à Série C.