Odô Iya

Está circulando em algumas redes na Internet dois documentos produzidos pela Igreja Metodista do Brasil. Um deles, chamado A televisão e os valores do evangelho: uma proposta de reflexão para a Igreja Metodista e outro, Pronunciamento dos Bispos que fazem parte de uma Campanha sobre a má qualidade dos programas televisivos.

Por Sueli Carneiro

Neles há uma convocação aos cristãos e em especial aos metodistas para uma cruzada contra a degeneração dos valores éticos, morais e familiares na programação televisiva em especial, os veiculados nas novelas da rede Globo. São libelos contra o imobilismo, a apatia ou indiferença dos telespectadores diante da crescente decadência dos valores cristãos. Exortam os seus fiéis a resgatarem os exemplos de resistência e de testemunho no passado cristão para encontrarem a coragem para enfrentarem as novas modalidades de violência promovidas pelos meios de comunicação enfatizando: “Devemos ter uma palavra e uma ação proféticas em relação à agressão que boa parte da mídia (televisão, jornal, rádio) e do mercado fonográfico exercem contra o nosso povo, inclusive os cristãos e, em particular, às crianças, adolescentes e jovens. Queremos ter uma palavra profética e pastoral nesse sentido.”

Os documento evoluem numa linha crítica porém civilizada até que o inevitável acontece ! O que parecia uma convocação cívica em prol do restabelecimento de valores éticos mínimos embasadores da vida social revela seu alvo fundamental: o tradicional ataque aos cultos afro-brasileiros e nesse caso específico ao candomblé e sobretudo a Iemanjá, a bola da vez da ira e da intolerância evangélica. Diz um dos documentos: “Agora, num gesto de desprezo ao seu público evangélico (ou simplesmente apostando na indiferença dele!), a TV Globo promove abertamente o candomblé na novela PORTO DOS MILAGRES, com direito a música-tema dedicada a “Iemanjá”, na voz de Gal Costa. E lá estão profissionalismo, recursos tecnológicos, muito dinheiro e artistas queridos pelo público, como Marcos Palmeira, Letícia Sabatela, Flávia Alessandra e Antônio Fagundes dando vida, conteúdos e realismo à história (…) E, aparentemente, a maioria dos atuais autores de novelas e “poderosos” da TV Globo é agnóstica, esotérica ou do candomblé.”
Evidentemente não há nesses textos, nenhuma referência á violência sistemática praticada pelas Igrejas eletrônicas evangélicas contra as religiões afro-brasileiras; menos ainda á demonização que elas promovem delas. Nem á hegemonia televisiva de que gozam as denominações evangélicas. Ou o desrespeito que praticam em relação a outros cristãos, por exemplo aos santos católicos, preferencialmente os negros, como o tratamento, á pontapés, dado por um pastor evangélico a uma imagem da Padroeira do Brasil em rede nacional. Mas o texto é prenhe na defesa de direitos, mas não do direito constitucional que outras modalidades religiosas não-cristãs tem de existirem, de se expressarem e gozarem da mesma visibilidade nos meios de comunicações que as religiões cristãs, mesmo não detendo o poder econômico e político das mesmas.

Dizem os bispos: “Agora, em duas novelas novas, há quebra dos valores morais e da prática de uma filosofia de vida que não combina com a formação cristã do povo brasileiro, sendo vítima a religião. De um lado, uma das novelas exalta o candomblé e o culto a Iemanjá. Outra, promove o esoterismo. Como os atores que as representam são muito queridos pela população, essas novelas acabam influenciando milhares de pessoas, particularmente os fãs adolescentes, a aceitarem uma espiritualidade mágica que se opõe radicalmente ao Evangelho de Jesus, vendendo, ou iludindo, o povo brasileiro ao considerar o candomblé como religião e o esoterismo como espiritualidade.

Para além da intolerância em relação ás formas não-cristã de religiosidade e espiritualidade, choca a arrogância e o autoritarismo de quem se sente imbuído do direito de nomear, classificar, catalogar e definir o que seja ou não seja religião e espiritualidade. A mera pretensão e a prepotência que lhe acompanha depõe contra a legitimidade religiosa e espiritual de quem assim procede.

Na tradição afo-brasileira, Iemanjá tem sob seu domínio as forças do inconsciente. Conta um mito que Oxalá enloqueceu e Iemanjá “cuidou de seu ori enloquecido, oferecendo-lhe água fresca, obis deliciosos, petitosos pombos brancos, frutas dulcíssimas. E Oxalá ficou curado. Então, com o consentimento de Olodumare, Oxalá encarregou Iemanjá de cuidar do ori de todos os mortais.”

Está sob sua guarda as forças irracionais do psiquismo humano, que recalcadas produzem comportamentos anti-sociais ou intolerantes. Por isso eu lhe peço, senhora das Águas: Perdoai, porque eles não sabem o que fazem!

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