Os 60 anos de um sonho

Até quando vamos nos conformar em seguir apenas sonhando?

Hoje, 28 de agosto, está fazendo 60 anos de uma das maiores manifestações antirracistas que se tem notícia na história da humanidade. Era uma quarta-feira quando cerca de 250 mil pessoas “marcharam” sobre Whashington.

No entorno do famoso espelho d’água no National Mall bradaram por direitos civis e equidade racial para os negros, e ouviram o reverendo Martin Luther King discursar sobre o sonho de que seus filhos um dia vivessem numa nação que não julgasse as pessoas pela cor da pele. Um sonho que ainda está longe de se tornar realidade…

Martin Luther King Jr., pastor batista e líder do movimento pelos Direitos Civis, acena para a multidão durante a Marcha para Washington, onde proferiu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, em 28 de agosto de 1963 – AFP Photo/Files

No Brasil, porém, na quinta-feira passada (24) os movimentos sociais negros deram uma demonstração de que a nossa sociedade –que é majoritariamente negra (pretos e pardos somam 56% da população, segundo o IBGE)– também tem disposição para sair às ruas e protestar contra a violação de direitos humanos e constitucionais.

Foi o que se viu na Jornada dos Movimentos Negros Contra a Violência Policial. Apesar das estratégias de dominação adotadas no país desde o período colonial – em especial a privação de meios básicos de ascender cultural e socialmente, o impede que a capacidade de mobilização seja proporcional ao total de afetados pelas desigualdades –, o ato foi nacional.

Organizada depois das mortes de pelo menos 32 pessoas na BA, 22 em SP e 10 no RJ, em julho e agosto, a mobilização reuniu pessoas em Brasília e em outras 24 capitais. Quem encarou o frio ou o sol a pino na data da morte de Luiz Gama, intelectual negro do século 19, ex-escravizado, líder abolicionista, poeta, jornalista, advogado, tem de ser valorizado.

Como sabiamente observou meu amigo e professor Ivair Augusto Alves dos Santos, “há muito tempo não havia negros se mobilizando nacionalmente.” Independentemente da cor da pele, como disse o reverendo King, o silêncio dos bons é o mais assustador.

Até quando vamos nos conformar em seguir apenas sonhando?

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