Passe Livre desconfia que polícia infiltre agentes para incitar violência em protestos

Representantes do MPL (Movimento Passe Livre) disseram nesta quinta-feira (27) desconfiar de que a Polícia Militar infiltre agentes para incitar o quebra-quebra nos protestos em São Paulo. A polícia, porém, diz que a acusação “é infundada”.

Nos últimos dias, segundo a ativista Mariana Toledo, os cuidados foram redobrados. “Nossa grande preocupação é de a polícia infiltrar gente no movimento. Temos o cuidado de verificar isso nas nossas reuniões, mas, especialmente, nas manifestações”, afirmou a mestranda em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo) após participar de sabatina realizada pelo UOL e pela Folha no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.

“A gente desconfia quando o sujeito chega e diz: ‘E aí, vamos quebrar um banco?'”, disse, referindo-se a pessoas que, durante as manifestações, teriam abordado diretamente membros do movimento com a proposta de promover atos de vandalismo.

De acordo com ela, o MPL está “sempre aberto a novos membros”, mas, nos últimos tempos, esse receio tem exigido mais cuidado em novos interessados em militar no movimento.

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar, por meio da sua assessoria de imprensa, rechaçou a acusação e disse que “a denúncia é infundada”. A corporação acrescentou que “a Polícia Militar não trabalha dessa forma, nem se vale de atitude ilegal para cumprir a sua missão constitucional, que é garantir a ordem e a segurança pública”.

Também foi sabatinado o estudante Caio Martins, representante do MPL. Tanto ele quanto Mariana não descartaram novas manifestações nas próximas semanas, mas não declinaram datas.

“As manifestações não estão descartadas, mas agora nossa preocupação é com os atos públicos organizados pelo movimento”, disse a estudante, mencionando atos como a aula pública de hoje, em frente à prefeitura de São Paulo.

“É muito difícil ser pacífico na rua porque o Estado é muito violento”

Para Martins, a violência do Estado, por meio da polícia, é que teria impedido que as manifestações tivessem sido pacíficas.

“Aqui no Brasil a gente não está acostumado com manifestação pacífica. Milito há três anos, e a primeira manifestação a que eu fui não foi pacífica. Foi contra o aumento para R$ 2,00 [da tarifa]. A gente saiu ali do Theatro Municipal e mal andou três quarteirões, quando, de repente, começa a estourar bombas de gás lacrimogêneo eu nunca tinha respirado aquilo. É terrível. Balas de borracha… várias pessoas que estão em volta de mim estão feridas sangrando e a gente começa a correr”, declarou. “Era difícil sair no centro porque as ruas estavam bloqueadas pela polícia, que estava detendo as pessoas que estavam com bandeiras. Isso foi em 30 de janeiro de 2011″, completou.

Martins citou o quarto ato contra o aumento da tarifa convocado pelo MPL em 13 de junho, fortemente reprimido pela PM com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha disparadas contra manifestantes, moradores ou trabalhadores das imediações da Paulista e jornalistas que cobriam a manifestação.

“É muito difícil ser pacífico na rua porque o Estado é muito violento. Desde o começo a violência policial esteve presente nas manifestações”, declarou. “As manifestações começaram de forma tranquila, quem introduzia a violência era a polícia. Eles têm bombas, eles têm bala de borracha, que são armas proibidas em vários países, consideradas armas de guerra, e mesmo bomba de efeito moral, que pode mutilar”, concluiu.

As barricadas montadas por manifestantes por meio de fogo ateado em lixo e lixeiras foram classificadas pelo militante como “uma tentativa desesperada de [a manifestação] atrasar a policia, que estava indo com a Tropa de Choque para reprimir”.

Tarifa zero bancada por impostos

Durante o debate, Martins defendeu que a tarifa zero no transporte público seja bancada pelos impostos pagos pelos contribuintes.

O movimento é responsável por organizar protestos contra o aumento da tarifa de ônibus na capital paulista, que desencadearam uma onda de manifestações em todo o país por várias outras razões.

Depois de intensas mobilizações na cidade, a Prefeitura de São Paulo recuou do aumento e a tarifa passou de R$ 3,20 para R$ 3.

O evento era aberto ao público e aconteceu no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. A discussão teve mediação da repórter especial da Folha Patrícia Campos Mello e a participação de Alan Gripp, editor de “Cotidiano”, de Uirá Machado, editor-assistente de “Opinião”, e da repórter do UOL Notícias Janaina Garcia.

Por: Janaina Garcia

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