Política, marketing digital e você

Que nós (povo brasileiro) estamos em momentos sensíveis é transparente para a maioria. Nuvens de dúvidas e um silêncio em tempos de eleições presidenciais é no mínimo notável. 

Como especialista em inovação social, quero fazer desse meu texto um canal para lembrar alguns pontos importantes para que façamos do nosso passado aprendizado.

Aqui falo sobre: conteúdo digital. 

Quem lembra dos conteúdos digitalmente veiculados durante a eleição passada? Quem se lembra do escândalo da Cambridge Analytica? Ex-assessor Steve Bannon é um nome  reconhecível para você?

Nos tópicos levantados anteriormente, temos em comum: conteúdos consumidos e de alto alcance entre a população em períodos eleitorais em determinados territórios. 

Dentro do marketing digital também chamamos isso de: estratégia de awareness¹.

De forma breve, o escândalo da consultoria Cambridge Analytica envolve o vazamento de dados pessoais da popular plataforma: Facebook para embasar a estratégia chamada de “Big Five” que funcionou da seguinte maneira: 

A Cambridge Analytica usou um teste de personalidade chamado “Big Five” (ou os “Cinco Grandes”) para captar informações de usuários que engajaram no teste e também de sua rede de contatos, sem sua permissão.

O teste focou em coletar dados que pudessem avaliar cinco traços de personalidade:

1- Abertura a experiências: Você está aberto a novas aventuras?

2 – Responsabilidade: O quão cuidadoso você é?

3- Extroversão: Você gosta de sair para festas?

4- Agradabilidade: Quanta compaixão e paciência você tem com outros usuários?

5- Irritabilidade: Você se preocupa ou se incomoda com frequência?

Depois da coleta de dados e segmentação de cada grupo de usuários. Outros dados como: curtidas, compartilhamentos, tempo de visualização de conteúdo, fotos e mensagens deram ao Facebook e à consultoria (Cambridge Analytica) informações que se aproximam de quem somos na vida on-line e off-line.

Manipulando os segmentos citados acima, a Cambridge Analytica dirigiu anúncios que foram mostrados no Facebook de pessoas com personalidades específicas.

Um exemplo trazido em um artigo da BBC nos diz o seguinte: 

“Uma das bandeiras de Trump era a defesa do porte de armas. Um internauta de perfil ‘aventureiro’ pode ter recebido mensagens de que a liberdade tinha de ser protegida de ameaças externas; o ‘guardião’, de que armas são essenciais para proteger as pessoas; e a ‘executiva’, sobre a proteção de sua família e do futuro.”

Todo o processo judicial para comprovar e rastrear quem votou em quem por causa de anúncio é sensível, novo e atravessado por muitas variáveis. É quase impossível conseguir rastrear quem votou em quem por causa de um anúncio. Apesar disso, foi comprovado e julgado que o Facebook participou sim de manipulações eleitorais. E mesmo assim, Donald Trump indultou Bannon minutos antes de seu mandato acabar.

E agora? Como nos blindar de golpes vindos de redes sociais que hoje, são quase pilares vitais da sociedade atualmente?

Estamos em momentos delicados, com tecnologias já mais desenvolvidas, LGPD sendo implementada e a desigualdade social marcando cada vez mais presença em nossa realidade.

Buscando referências para construir esse post, passei por grupos de estudo, debates intelectuais e entrevistei a mestranda Ana Beatriz Slomski (pesquisadora no mestrado PPGCM da ECEME e analisa desigualdades estruturais do espaço cibernético).

Concluindo a pesquisa, listei alguns dos pontos que observo estarem próximos no uso cotidiano de redes sociais e que podem potencializar e proteger nossa cidadania digital. 

Durante o período eleitoral, no mundo on-line, bora pensar em:

  • Que conteúdos estamos engajando?

Observe que tipo de “trends” você está participando. Questione-se se essa brincadeira envolve dados sensíveis (idade, simulação de idade, etc), caso sim, evite participar.

  • Que tipo de ação/reação a partir de determinados conteúdos podem ser identificadas como coletoras de dados para estratégias de manipulação de informações? 

Dados são coletados de forma passiva e ativa, aceitamos isso ao clicar no “Aceitar termos de condições e continuar”, sabe? Considerando isso, é importante ficar atento a quase todo tipo de conteúdo: filtros, teste de personalidade, reels, likes, compartilhamento, comportamento de uso, perfis que seguimos e da sua rede de contatos. Algumas notícias e conteúdos são tentadores demais, eles são pensados e criados exatamente para isso. 

  • Redes sociais são utilizadas de que forma pelos eleitores brasileiros? 

O Whatsapp e Telegram são as principais plataformas utilizadas para espalhar misinformation² pelo Brasil. Nesse caso, é importante questionar se nós, como comunidade nacional, já sabemos como identificar fake news. E deep fake news? Caso não, que tal conversar sobre isso? Aqui tenho outro artigo com foco nesse tema que pode ajudar na hora de puxar assuntos como esse: “Por que você deveria estar falando sobre fake news”

  • Redes sociais são utilizadas de que forma pelos candidatos políticos brasileiros? 

Os momentos violentos e silenciosos já se tornam visíveis para especialistas em marketing digital. Que estratégia é essa que acontece praticamente de forma invisível para o povo?

Concluindo: não estou falando que os tópicos acima vão salvar a rede de informações falsas e/ou nos proteger de golpes analíticos, longe disso, mas sim que são ações que potencializam o movimento de cidadania digital e da #internetqueagentequer. 

Refletir sobre o conteúdo que consumimos é refletir sobre o caminho que estamos indo. 

O futuro que eu desejo para o Brasil, é um futuro livre de manipulação de informações. É um futuro onde a internet seja uma ferramenta segura e transparente com seus usuários.

Agora, me conta, você já observou alguma movimentação on-line voltada para as eleições de 2022? Em que plataforma ela aconteceu?

Aproveito para agradecer aos meus parceiros de pesquisa e teoria nesse mundo de inovação social: Ana Beatriz Slomski, Aryel Roncalio e Ary Barreiros. Seguimos! 

FONTES:

COX, G. W. (2008). Electoral institutions and political competition: coordination, persuasion and

mobilization. Handbook of new institutional ec onomics, 69 89.

https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-20/trump-indulta-seu-ex-estrategista-steve-bannon-horas-antes-de-deixar-a-casa-branca.html

https://www.bbc.com/portuguese/geral-43705839

https://www.nsctotal.com.br/noticias/por-que-voce-deveria-estar-falando-sobre-fake-news


¹ em tradução literal: conscientização, consciência, conhecimento, etc.

² em tradução literal: misinformation: a informação errada

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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