“Trabalhamos corpo, mente e alma das garotas”, diz idealizadora do projeto. “É gerar qualidade de vida na nossa comunidade”, ressaltou a presidente de empresa parceira.
Por Roberta Oliveira Do G1
A semana foi agitada para várias meninas e jovens que participaram das comemorações dos cinco anos do projeto “Pérolas Negras”, em Viçosa. Em 2014, o G1 conversou com a idealizadora do projeto, Raíssa Rosa, que destacou a importância de incentivar a valorização identitária feminina.
Atualmente são duas mil crianças e adolescentes atendidas pelas oficinas e ações do projeto em Viçosa, Teixeiras, Paula Cândido e em Salvador (BA). Agora, o foco está além de incentivá-las a ver a beleza na própria aparência.
“A repercussão da matéria em 2014 nos deu visibilidade, escolas, organizações não governamentais (ONGs) entraram em contato querendo as palestras e oficinas. Vimos que era necessário aperfeiçoar e agora falamos também de sexualidade, arteterapia, empreendedorismo. Trabalhamos corpo, mente e alma das garotas para empoderá-las”, contou Raíssa Rosa.
A presidente da Haskell Cosméticos, Ana Márcia Sena, destacou a importância de apadrinhar um projeto como o Pérolas Negras.
“Eu comecei como cabeleireira e, para mim, nunca houve um padrão de beleza. E isso é algo que a nossa empresa, com sede em Viçosa abraçou. Estas mulheres enfrentam racismo e preconceito social, vistas como pessoas aquém. Nossa união de forças é uma forma de valorizá-las, empoderá-las e dizer que elas são lindas como que são”, destacou ao G1.
‘Queremos ir muito mais longe’, diz idealizadora do projeto
Raíssa Rosa contou que a entrevista de 2014 ao G1 trouxe um aspecto interessante: histórias semelhantes em diferentes lugares do país.
“A gente trabalha com todas as meninas que pedem ajuda por falta de autoconfiança, por sofrerem com a opinião alheia. Uma história puxou a outra e percebemos que várias meninas tinham relatos semelhantes. Escolas e projetos de diferentes cidades da Zona da Mata entraram em contato. Fomos até o Pará falar sobre as Pérolas Negras por causa da reportagem há quatro anos”, comentou.
E também fez com que ela percebesse que precisava se capacitar e se cercar de pessoas especializadas para o projeto seguir em frente.
“Eu sou professora, me formei em Ciências Sociais, fiz mestrado em Salvador e agora quero fazer o Doutorado em Juiz de Fora. São cerca de 12 mulheres na nossa equipe, que atuam nas áreas de comunicação, social, pedagogia, terapias. Debatemos colorismo, ancestralidade, recortes sociais. Todos sofremos com a padronização. Por isso, o grupo cresceu e se tornou multidisciplinar”, contou.
De acordo com Raíssa Rosa, foi possível mudar também o impacto nas crianças, adolescentes e jovens, de qualquer origem racial, com quem o projeto dialoga.
“A gente conseguiu entrar no espírito destas meninas. Eu falo que a gente trabalha como um curativo nos buracos feitos nas almas delas por causa do estereótipo estético. Alcançamos uma ideia muito maior e queremos ir ainda mais longe”, ressaltou.
E para isso, a próxima etapa do Projeto Pérolas Negras é viabilizar uma sede própria, um local que seja uma referência para os participantes. Quem quiser conhecer ou ajudar o projeto pode entrar em contato pelos perfis no Facebook e no Instagram.
“No momento, nós vamos aos locais e realizamos as palestras e oficinas. Queremos um local onde elas se sintam motivadas a transformar o sonho em futuro. Por não ter uma estrutura física própria, paredes, cadeiras e salas, a gente fica amarrado às normas dos espaços que visitamos. Toda ajuda é bem-vinda. Tudo que vem com amor, e assim será usado, parece que dobra. Que venha para multiplicar. Queremos atender a Minas Gerais inteira”, afirmou Raíssa Rosa.
Gerar qualidade de vida, destacou empresária
Quem abraçou o projeto desde o início foi a empresa de cosméticos Haskell Cosmética Natural com sede em Viçosa, que cede os produtos, como shampoos e cremes para as oficinas com as integrantes do projeto. A presidente Ana Márcia Sena destacou que houve identificação com as metas do Pérolas Negras.
“Somos madrinhas porque também pensamos que precisamos valorizar a nossa beleza natural. Nossos produtos ajudam os cabelos a ficarem bem e saudáveis, deixando estas meninas e mulheres felizes com a própria aparência. Desta forma, ajudamos na valorização pessoal porque elas vão perceber que podem ter a aparência que tiverem vontade”, destacou.
Uma das atividades na semana de aniversário dos cinco anos do grupo foi uma visita à fábrica, para conhecer como os produtos são produzidos. Ana Márcia Sena contou a própria história – a jornada que a levou de cabeleireira à empresária – às garotas e incentivou que encontrem a força em si mesmo.
“É importante destacar isso, especialmente às crianças. Para enfrentar uma sociedade como a nossa, onde ainda há racismo, as meninas precisam crescer com um pensamento diferente, mais fortes, empoderadas de suas belezas naturais”, destacou a empresária.
Além do Pérolas Negra, a empresa também apadrinhou um grupo de leitura e um grupo de dança de rua. Para a empresária, a lógica é simples: fazer a diferença onde se está.
“Empregamos diretamente 200 pessoas na cidade, temos outras 4 mil pelo país e um grupo de 30 no exterior. Se você não faz nada na sua casa, vai fazer fora? Por isso, queremos fazer a diferença em Viçosa. É mais que gerar emprego, é gerar qualidade de vida para a nossa comunidade. Claro que no futuro pode ser ampliado, há muito a ser feito. Se cada empresa abraçasse uma causa, o mundo poderia melhorar”, analisou Ana Márcia Sena.