“Quando nasce um filho ou uma filha, nasce uma mãe”. Quem nunca ouviu ou leu essa frase? Eu por exemplo já ouvi inúmeras vezes. Eu super concordo com ela, pois quando decidi me tornar mãe, nasceu em mim uma mãe. Uma mãe até bem leoa, eu diria.
Uma leoa que gerou, que cuida com muito amor, que batalha duro, e que se necessário fosse, daria a vida pelas crias.
Gerar, criar, cuidar, educar, não é nada fácil. Tiro pelas experiências contadas por meus pais sobre eu e minha irmã que até hoje me inspiram. Mas também pelo meu dia a dia sendo mãe de duas meninas. Educar meninas, mulheres, em um país tão machista não é nada fácil.
Sinto na pele quando preciso me ausentar, tomar decisões, trabalhar horas extras, ou qualquer outra coisa que possa vir a mexer com a rotina delas ou com minha paz por não estar perto delas.
Hoje sou mãe de duas meninas. Uma de um antigo relacionamento que muito me ensinou na vida, e outra do meu atual relacionamento que veio para trazer esperança de que é possível ser feliz após tantos traumas. A diferença entre elas é de apenas 5 anos. Mas a diferença que elas tornaram minha vida é gigante.
Houve uma época na qual eu saía de casa às 5h30 da manhã, deixava minha filha na creche às 6 horas, e só retornava para buscá-la às 19 horas. Me sentia culpada, chorava, me preocupava, ligava para saber como ela estava, mas no final eu não tinha opção.
Ouvi muitas pessoas me criticando e dizendo que eu era louca por deixar minha filha na creche por tanto tempo. Mas ou era isso, ou eu não seria capaz de trabalhar.
Mas eu entendia e seguia firme. Mesmo com dor e saudade, eu seguia.
Afinal, eu precisava dar conta dela e de tudo que acarretava ter uma filha no meu momento atual e em condição de mãe solo. Era doloroso chegar a casa e ter que dar conta de tudo sozinha, sentir a solidão literalmente bater, e a culpa surrar por escolhas erradas feitas lá atrás.
Escolhas essas que não poderiam intervir ainda mais em nossas vidas. Pensar nos próximos passos de maneira que não a deixasse ainda mais no meio de qualquer situação desfavorável, era primordial.
Tudo isso foi necessário para me fazer crescer e entender o que eu nunca mais queria viver. Hoje, com minha caçula e em um relacionamento totalmente diferente do anterior, vivo me superando a cada dia e entendendo que tem tombo que a gente toma, para poder levantar, sacudir o cabelo e dançar uma boa música.
Queria poder dividir hoje com muitas mulheres que de alguma forma já passaram por situações difíceis, mas que hoje seguem olhando pra frente e arrancando de suas vidas páginas de tristeza, dor e violência.
No último final de semana abri uma caixinha de perguntas e respostas no meu Instagram pessoal e o resultado foi bem diversificado. Porém uma única coisa se repetia: os relatos de mulheres que passaram por relacionamentos abusivos com os pais de seus filhos e filhas, e ao mesmo tempo, a solidariedade entre as mais diversas mulheres que, assim como eu, hoje passam por um processo de recuperação de relacionamentos abusivos, que deixaram feridas e cicatrizes.
Portanto, esse espaço aqui hoje é para começarmos a semana lembrando que, ainda que neste momento, não consigamos nos ver como merecemos, com um futuro brilhante e sendo as mulheres que sonhamos ser, esse momento irá chegar.
O processo de cura de uma relação abusiva ou tóxica não é algo linear, e por vezes pode parecer que não chegará ao momento de libertação das feridas que tanto queremos. Ainda assim, é importante que consigamos nos manter firmes neste percurso de aceitação e olhar de forma mais empática para nós mesmas, sem nos culparmos por comportamentos de terceiros.
Avante mulheres!