Quero abraçar o Laerte – Por: Fernanda Pompeu

Sempre admirei o Laerte. Por seus quadrinhos e pelo seu humor. Por exemplo, as tiras Piratas do Tietê com sua acidez e desespero tão megametropolitanos. Também quando foi desenhista de Los Três Amigos ao lado dos superbons Angeli e Glauco, este último falecido.
Mas minha admiração se tornou exponencial quando o vi vestido de mulher. A primeira reação foi um sonoro Ops!. A segunda: quero entender mais! Passei a prestar muita atenção nas suas palavras. E ele foi se tornando uma inspiração.

Não tenho nenhum desejo de me vestir como um homem, ao menos por enquanto. A inspiração que Laerte me proporciona é a da abertura. Mais ainda, o alargamento dos horizontes de como estar no mundo e de como respeitar a subjetividade do outro.

Laerte Coutinho não apenas vestiu saia, pôs sapato alto, pendurou colar, fez unhas e cabelo. Também repaginou o cérebro, tornando-o mais elástico. Começou a disparar perguntas incômodas. Por que os comportamentos masculino e feminino são tão formatados? Por que banheiros públicos não podem ser mistos?

O mais surpreendente é que ele faz questionamentos a partir dele mesmo. Ele fala em revolução fazendo a revolução. Reflete sobre relações e conflitos de gênero sem pedir licença às ongs feministas ou à academia – espaços que se tornaram “donos” dessas discussões.

Está aí o meu fascínio. Antes ou depois de tudo, Laerte é um livre- pensador. Não usa expressões do tipo: por favor, veja bem, não me entenda mal, considerando que, se formos comparar, no mundo de hoje etc. Ele chega e despeja as dúvidas dele.

Tudo isso tem a ver com a ação, tão atual e necessária, de sairmos das nossas caixinhas. Melhor será dizer, saltar dos caixões que nos sufocam em vida. Pois se somos tão múltiplos, por que apequenar possibilidades?

É evidente que ninguém é obrigado ou obrigada a se vestir com roupas do sexo oposto para viver sua revolução. Cada um com suas dúvidas e verdades. Afinal, a mudança de guarda-roupa começa dentro da nossa cabeça. Pensar grande é pensar diferente.

 

Fonte: Yahoo

+ sobre o tema

Musk sugere anistia para policial que matou George Floyd

O bilionário Elon Musk sugeriu repesar a condenação da...

Redução da jornada de trabalho ajudaria quebrar armadilha da baixa produtividade?

Exemplos de países desenvolvidos não dizem muito sobre qual seria...

A escalada das denúncias de quem trabalha sob calor extremo: ‘Imagina como ficam os trabalhadores soldando tanques’

Na segunda-feira (17/2), enquanto os termômetros de São Paulo batiam...

Governo divulga ações para lideranças religiosas de matriz africana

O Ministério da Igualdade Racial (MIR) apresentou para lideranças...

para lembrar

STF começa a julgar nesta terça (18) supostos mandantes da morte de Marielle

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, na tarde desta...

Impressões da entrevista com o presidente Lula

No Blog Quilombo, Dennis de Oliveira reflete sobre as...

Governo anuncia diálogo com jovens por meio de redes sociais

Presidente Dilma se reuniu nesta sexta com jovens de...

“O autoritarismo é um vírus presente na sociedade brasileira”, diz Santa Cruz

Desde a independência, em 1822, o Brasil vive sob...

O Congo está em guerra, e seu celular tem a ver com isso

A Guerra do Congo é o conflito mais mortal desde a Segunda Guerra Mundial, mas recebe bem menos atenção do que deveria —especialmente se comparada às guerras...

Debate da escala 6X1 reflete o trabalho em um país de herança escravista

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (25), o texto da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que quer colocar fim à...

Não há racismo estrutural, e discriminação afeta brancos, diz governo Trump

O governo de Donald Trump considera que não existe racismo estrutural nos EUA e alerta que a discriminação é, de fato, cometida contra brancos. Numa carta escrita no dia...
-+=