Religiosos farão protesto contra projeto de vereador que proíbe “sacrifício de animais” em rituais

Após o vereador Marcell Moraes (PV) ter apresentado na sessão ordinária desta terça-feira (30) o polêmico projeto de proibir que animais sejam sacrificados em rituais realizados em terreiros de candomblé, representantes de religiões de matrizes africanas prometeram fazer uma mobilização na próxima segunda-feira (6) na Câmara de Vereadores de Salvador.

“O projeto está rodeado de intolerância. Fere a Constituição e o direito à liberdade de culto religioso. É um retrocesso. Não podemos aceitar”, disse, em entrevista ao Portal Correio nagô, o vereador Sílvio Humberto (PSB).

Para ele, as religiões de matrizes africanas te como um dos princípios a defesa do meio ambiente. “A forma como ele argumenta é intolerante e autoritária. Não se coloca no lugar do outro. Uma cidade negra como Salvador não pode deixar um projeto dessa natureza prosperar, mas pelo que vi dos vereadores esse projeto não deve ir para frente”, complementou Humberto.

A socióloga e presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia (CNDC), Vilma Reis, ressaltou que o primeiro aspecto que “tem que ser enfrentado” no debate é a chamar a utilização de animais nos cultos de “sacrifício”.

“Chamar de sacrifício é uma forma intolerante de quem ignora as práticas religiosas. Diversas religiões no mundo fazem oferendas com carneiros e outros animais. O estranho é esse ataque cotidiano às religiões de matrizes africanas de cunho racista”, ponderou Reis.

“É uma aberração um legislador ter uma posição política como esta porque o legado imaterial de Salvador está ligado ao legado das religiões de matriz africana”, complementou a socióloga.

Já para o presidente da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu), Taata Lubitu Konmannanjy, o vereador teria que se colocar contra também os frigoríficos e empresas como a Perdigão. “O abatimento que se faz é com respeito ao animal. Tem reza, canto e além de tudo é o alimento que comemos no nosso ritual. Isso é uma questão de intolerância religiosa”, destacou.

De acordo com informações do A Tarde, o caso ganhou repercussão também nas redes sociais. Em seu perfil no Facebook, o médium baiano José Medrado criticou a iniciativa do vereador. “É preciso conhecer, para não satanizar a religião de ninguém”, afirmou.

Em sua postagem, Medrado questionou a intenção do projeto. “Todas as partes do animal vão servir de alimento, nada é jogado fora. O couro do animal é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes; algumas partes são preparadas para os orixás e o restante é destinado aos demais”, argumentou.

Em entrevista a um site de notícias local, Marcell Moraes declarou que encara com tranquilidade a promessa de manifestação. “Será até bom que poderei expor os meus motivos. Sou um defensor da causa dos animais. Não tenho nada contra o candomblé ou qualquer outra religião”, explicou o vereador verde.

Marcell disse que “não tem nada contra a religião, mas é contra o uso de animais para os rituais”. “Não tenho um projeto de religião. A proposta é voltada para a área de animal. As pessoas precisam refletir mais sobre a preservação dos animais. É importante lembrar que cultura não pode virar tortura”, emendou.

Marcell ofereceu ainda, uma alternativa aos frequentadores de terreiros de candomblé, caso a medida seja aprovada. “A própria religião prega que os orixás são bons e puros. Então, elas (entidades religiosas) vão compreender se trocar a oferenda e oferecermos folhas ou plantas no lugar dos bichos sacrificados”, opinou.

*Por Anderson Sotero

 

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Fonte: Correio Nagô

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