Renée France de Carvalho narra sua trajetória política e fala da vida pessoal em livro

Renée France de Carvalho – Uma vida de lutas (Fundação Perseu Abramo) é o nome do livro que será lançado nesta segunda-feira, às 19h, no auditório do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG). Trata-se de volume de memórias, mas parece mesmo é história de filme: mostra a trajetória de uma militante francesa, que durante toda a vida lutou contra a opressão. Apoiou as lutas contra o ditador espanhol Franco; a resistência à ocupação nazista na França; enfrentou a ditadura militar no Brasil. Levando armas, dinheiro e documentos para os combatentes, organizando reuniões, cozinhando. Foi perseguida, exilada, viveu na clandestinidade. Rompeu com partidos de esquerda e criou outros, como o Partido dos Trabalhadores, do qual é fundadora.

“Tive a vida pessoal feliz e a vida política que escolhi. Então, não posso me queixar”, observa Renée de Carvalho com bom humor. “Meu marido foi homem de qualidade especial, bom, inteligente, carinhoso, me deu dois filhos como ele. Que posso querer mais?”, observa, referindo-se a Apolônio de Carvalho (1912-2003), parceiro de atividades. “E a vida me escolheu para ser, quase desde criança, militante. Fui levada a conhecer problemas que não conheceria se não tivesse seguido esse caminho. Poderia ser dona de casa, funcionária, mas não teria sido tão interessante”, garante. “”Houve momentos difíceis, mas vivemos sempre com um ideal que não era mesquinho, que considerava a vida e o futuro das pessoas”, observa.

Renée de Carvalho cultiva, com carinho, as recordações dos tempos de menina, quando participou junto com a família das manifestações da Frente Popular, coligação de socialistas e comunistas que venceu eleição na França em 1936.”Nem sei se entendida direito o que estava ocorrendo, mas achava bonito o ativismo em favor de uma vida digna para as pessoas. Foi uma espécie de revolução cultural”, recorda. A Segunda Guerra, pouco depois, traria a ocupação da França pelos nazistas, “batalhas terríveis” (e ver o pai já idoso, voluntário, participando delas), milhões de prisioneiros, estradas cheias de pessoas fugindo dos alemães. “Cada ato, até os pequenos, tinha de ser de resistência e podia levar à prisão”, recorda.

Conheceu Apolônio de Carvalho convivendo com militares e voluntários estrangeiros que estavam na França para lutar contra os nazistas. Ele foi buscá-la no hospital, onde estava para prestar assistência a uma polonesa, enfermeira da resistência, que estava grávida. “Era época difícil para namorar. Bastava alguém ser preso para perder todo o seu núcleo e não ver mais ninguém. Mas a gente sempre arruma um jeito”, brinca. Só se casaram em 1945 (“para dar satisfação ao meu pai”), quando nasceu o primeiro filho. Com o fim da guerra, o casal veio para o Brasil. Ela chegou grávida do segundo filho, sem falar português, em um pais desconhecido, “em que faltava tudo e com muitos preconceitos, sobretudo em relação às mulheres”.

Mal chegou ao Brasil, a família Carvalho voltou à clandestinidade, já que o partido comunista foi posto fora da lei. Momento de “angústia em grau máximo”, conta Renée, que experimentou, nos anos 1960, prisão e torturas (“brutais”) do marido, filhos e nora. Renée defende a Comissão da Verdade: “É desumano não deixar que pessoas que perderam marido e filhos saibam o que ocorreu com eles”. Ela avisa que não escreveu o livro para dar conselhos. “Apenas descrevo a minha época, como vivi e o que pensava”. O prefácio é de Luiz Inácio Lula da Silva.

Motivo de satisfação, hoje, para Renée, é o fato de os “afrodescendentes começarem a se fazer respeitar” (é a favor das cotas). E haver uma mulher na Presidência da República. Lamenta que ainda exista machismo em todas as classes sociais e cobra mais respeito às mulheres. “Gostaria de um futuro com plena igualdade entre homens e mulheres. E mais educação, que é o que está no fundo de todas as melhorias”, observa. E não só no Brasil.”

Uma vida de lutas Lançamento do livro de Renée France de Carvalho, nesta segunda-feira, dia 7, às 19h, no Auditório do

Crea-MG, Avenida. Álvares Cabral, 1.600, Santo Agostinho, (31) 3297-9063. Entrada franca.

 

 

 

Fonte: Divirta-se

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