“Com o que você tem que lidar sendo uma repórter”. É com essa frase que a jornalista Brianna Hamblin, do canal Spectrum News, nos Estados Unidos, começa o post em que denunciou as inseguranças e violências que uma jornalista mulher sofre ao fazer coberturas locais. A publicação, feita na última sexta-feira (23/7), traz um vídeo de 1min9s em que ela é assediada por um homem, além de sofrer racismo por ele.
O registro foi feito pelo cinegrafista que estava com Brianna. No momento, eles testavam a posição da câmera e estavam prestes a entrar ao vivo. Após um homem passar pela câmera, perguntar se estão ao vivo e dizer que Brianna estava bonita; um segundo homem se aproximou da repórter. No registro, é possível ver que ele observa o corpo da profissional.
Ao passar pela câmera, ele diz: “você é bonita para cac***”. A repórter agradece, mas a voz do homem não se distancia. No post, ela diz que ele permaneceu a encará-la e assediá-la. Além de dizer que ela era muito bonita, perguntou o por quê de ela estar ‘na frente da câmera’. Ele tenta se assegurar de que não está sendo filmado ao ficar atrás da câmera e ameaça o cinegrafista: “É melhor eu não aparecer nessa câmera filha da p***”, diz.
Segundos depois, ele sugere que, se ficasse sozinho com a repórter poderia fazer algo, além de chamá-la de ‘vadia mulata’. “Veja, esse é o motivo porque eu não posso ser deixado com uma mulher negra ou uma vadia mulata. Eu não suporto as garotas brancas”, declarou o homem.
No vídeo, é possível ver o choque da repórter ao ouvir a declaração. De braços cruzados, ela tenta fazer com que ele deixe o local. “Ok, nós acabamos por aqui. Tenha um ótimo dia”, disse. O assediador parece não ouvir o que Brianna falou e age, mais uma vez, de maneira inconveniente. “Você é muito sexy”, afirmou.
A repórter fica muda e encara a câmera. O homem se afasta, mas é possível que ele ainda comenta o assunto com outra pessoa. No texto da publicação, Brianna diz que “nunca deixa de ficar surpresa” com a audácia dos homens em dizer absurdos para mulheres.
“O que te faz pensar que as mulheres querem ser tratadas assim? De forma alguma isso é cativante ou lisonjeiro. É desconfortável, nojento”, pontua. Ela ainda diz que não pode enquadrar isso como uma forma ‘de como os homens elogiam nos dias de hoje’ e cita o primeiro homem que a elogiou e deixou o local.
Repórter mulher e negra: o duplo desafio em um mundo machista e racista
A jornalista também diz que estar em frente às câmeras é mais difícil por ser uma mulher negra. Brianna diz que o fato de terem a cor da pele como um símbolo sexual, torna tudo pior. Para ela, o ‘fetiche’ de homens brancos com mulheres pretas foi o que fez o assediador dizer que não ‘suportava mulheres brancas’. “Falar mal de um grupo de mulheres para ‘elogiar’ outro NUNCA é bom. Isso mostra apenas que você tem um fetiche nojento baseado em estereótipos, que é igualmente racista”, escreve.
Ela também diz que teve a sorte de ter um cinegrafista com ela. “No meu último emprego, tive que lidar sozinha com esse tipo de coisa, como a maioria das mulheres repórteres. Não é seguro, é assustador”, conclui.
Entre os milhares de comentários, várias mulheres lamentam o ocorrido. Uma repórter compartilhou do mesmo sentimento que Brianna. “Infelizmente você está certa e isso acontece com muita frequência. Como uma mulher na indústria de notícias, sentimos que precisamos ser educadas e equilibradas, porque estamos no centro das atenções. Você lidou com isso muito bem, mas não é aceitável de forma alguma”, disse.
“Eu não consegui assistir tudo. Estou muito chateada que nós, como mulheres, temos que nos movimentar profissionalmente, casualmente e de todas as formas, sabendo que podemos ser algo desse comportamento bruto e às vezes fatal, porque homens assim não te trata como um ser humano digno”, pontua uma mulher. “Você estava literalmente fazendo apenas seu trabalho. Uau, sinto muito por isso”, escreveu outra usuária.
Confira a publicação completa e o vídeo, em inglês: