Os rolezinhos e as manifestações de junho, por Gilberto Maringoni

 

Rolês têm a ver com junho

Tudo indica que a composição social aqui é de jovens pobres da periferia. Em junho, havia uma nítida maioria de garotos e garotas de classe média indo às ruas.

Os rolezinhos de janeiro talvez sejam manifestações sociais diferentes das de junho.

Isso, por dois motivos:

1. Pobres em ação  – O que digo aqui são apenas conjecturas e não estou municiado de nenhuma pesquisa empírica. Mas tudo indica que a composição social aqui é de jovens pobres da periferia. Em junho, havia uma nítida maioria de garotos e garotas de classe média indo às ruas, em especial estudantes. Se isso se confirmar, temos algo bem mais profundo entrando em ebulição.

2. Integração pelo consumo – Em junho, as demandas difusas apontavam para a melhoria dos serviços públicos, em especial transportes, saúde e educação. Agora não há demanda objetiva. E nem contestação clara. Há um desejo de se mostrar, de beijar “umas minas” e de zoar por aí. Há uma demanda por aceitação. Isso quer dizer muita coisa.

Tento explicar.

Os jovens estão indo ao lugar onde pode se realizar a propalada “inclusão social” da Era lulista.

O que se alardeou na última década não foi o fato de a chamada “classe C” estar comprando seu laptop, seu tablet, sua TV de tela plana, seus eletrodomésticos e seu Corsa em prestações a perder de vista? O substrato do pleno emprego e do aumento real dos salários não é, ao fim e ao cabo, poder comprar mais e mais?

A garotada quer isso. Quer mais tênis, quer mais grifes e quer poder mostrar isso. Algo como o funk ostentação. Pode não estar comprando, mas está indo aos templos do consumo para dizer que existem, que estão aí e que querem se divertir.

Se consumo é alardeado como direito de cidadania, onde exercê-lo plenamente?

Em que lugar exercitar meu hedonismo a pleno vapor?

Como Lula falou

A garotada está se comportando como Lula falou, como a marquetagem propagou, como a mídia repetiu e como a publicidade os pautou. Vamos comprar! Vamos consumir.

Que mal há nisso, na sociedade em que tudo é mercadoria?

Não pode. A sociedade da mercadoria não é para todos.

Por isso, o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, Luís Fernando Veiga, chama a polícia. Lembra que shopping-center não é espaço público coisa nenhuma. Que vai pedir documentos aos suspeitos de sempre e restringir entrada e circulação.

E, num rasgo ditatorial, pressiona e obtém do Facebook a censura das páginas que convocam as zoadas da garotada. Coisa de fazer inveja ao nefando Dr. Armando Falcão, ministro da Censura da ditadura.

Pode ser o tiro pela culatra.

Ao tratar uma questão social profunda como caso de porta de cadeia, o dr. Veiga periga estar atuando como agente provocador. Afinal, em junho passado, o aumento da repressão propagou as movimentações de forma inesperada.

Tudo bem que não seja fácil entender o que está acontecendo.

Mas o pior caminho é achar que não é nada, nada mesmo…

E começar a conversa pela língua do cassetete.

 

 veiga 2

 

  • Shoppings pediram retirada de ‘rolezinho’ do Facebook, diz Abrasce

  • A rebelião dos excluídos

  • “Eu só quero conhecer o Shopping”: Documentário mostra imagens do primeiro “rolezinho”, há 13 anos

  • Rolezinhos: “Se houver necessidade, PM vai usar a força” diz secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo

  • Rolezinho e racismo

  • Vídeo mostra PMs agredindo jovens em ‘rolezinho’ dentro do shopping Itaquera

  • Rolezinhos: O que estes jovens estão “roubando” da classe média brasileira – por Eliane Brum

  • ROLEZINHOS & FLASH MOB: A Consciência Humana é branca e rica

  • Rolezinho: ato em São Paulo vai “denunciar o caráter racista” de shoppings

  •  

    Fonte: Carta Maior

    + sobre o tema

    INSS notificará beneficiários vítimas de descontos a partir de terça

    A partir desta terça-feira (13), os aposentados e pensionistas que sofreram...

    Pepe Mujica e o compromisso radical com a democracia 

    A morte de Pepe Mujica marca um ciclo raro...

    Brasil sobe 5 posições no ranking global de desenvolvimento humano, aponta relatório da ONU

    O Brasil subiu cinco posições no ranking global do Índice...

    para lembrar

    “Achei que ia ficar louco durante as filmagens”, diz Jamie Foxx, ator de “O Solista”

    Fonte: Uol- O ator, comediante e músico Jamie Foxx, 41,...

    Projeto financiado pela ONU beneficia produtores rurais do Semiárido brasileiro

    O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações...

    Jürgen Klopp, um socialista cristão

    Técnico do Liverpool, que já criticou publicamente Trump e...

    Estudo aponta riscos de tecnologias de reconhecimento facial

    Sorria! Seu rosto está sendo não só filmado, mas também classificado, comparado e identificado, principalmente por órgãos públicos de segurança. Na maioria das vezes sem seu conhecimento....

    Desigualdade climática: estudo aponta que população mais pobre sofre consequências maiores por causa do calor

    ASSISTA A REPORTAGEM A desigualdade social dificulta o acesso das pessoas à direitos básicos e, além disso, também afeta diretamente a maneira que cada grupo...

    Quilombolas pedem orçamento e celeridade em regularização de terras

    O lançamento do Plano de Ação da Agenda Nacional de Titulação Quilombola foi bem recebido por representantes dessas comunidades. Elas, no entanto, alertam para a necessidade...
    -+=
    Geledés Instituto da Mulher Negra
    Privacy Overview

    This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.