Vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz por Série Dramática, a atriz falou com exclusividade à Marie Claire sobre seu novo filme, “Meditation Park”, sobre representatividade – ou a falta de – em Hollywood e sobre a segunda temporada de “Killing Eve”
Por BÁRBARA TAVARES, da Marie Claire
Ela entrou para a história de Hollywood ao se tornar a primeira mulher com ascendência asiática a ganhar o prêmio de Melhor Atriz em Série Dramática por sua atuação em Killing Eve, da BBC America. Não bastasse, ela também foi pioneira ao apresentar a premiação e ao ganhar múltiplas estatuetas – sua primeira foi a de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática pelo papel da inesquecível Dra. Cristina Yang em Grey’s Anatomy.
Aos 47 anos, Sandra Oh está com a agenda mais cheia do que nunca: a atriz acaba de estrear na segunda temporada de Killing Eve e também no filme Meditation Park, dirigido por sua parceira de trabalho de longa data, a cineasta Mina Shum, com quem também trabalhou em Os Dois Lados da Felicidade (1995) e Vida longa, Felicidade & Prosperidade (2002).
O longa conta a história de Maria Whang (interpretada por Cheng Pei-Pei), mãe de família e imigrante chinesa em Vancouver, Canadá, que, aos 60 anos, vê sua vida mudar completamente ao descobrir uma peça de lingerie no bolso da calça do marido.
Natural do Canadá e filha de pais coreanos, Oh falou com exclusividade à Marie Claire sobre o novo filme, sobre representativade – ou a falta de – em Hollywood, e ainda deu um gostinho do que está por vir em Killing Eve. Confira!
Marie Claire: Maria é uma mulher de 60 anos que nunca trabalhou fora de casa, passou a vida cuidando do marido e dos filhos e, de repente, decide que precisa de uma mudança. Ela busca emprego, independência e um novo propósito, o que surpreende inclusive Ava (personagem de Oh), sua filha. Podemos dizer que o que Maria enfrenta é uma questão de outra geração, algo mais incomum nos dias de hoje. Você concorda?
Sandra Oh: Eu considero Meditation Park um filme com uma história muito sutil. Em muitos filmes, mulheres independentes são mostradas como super-heroínas que lutam contra alienígenas. Nesse, é heroico que Maria aprenda a andar de bicicleta. Eu considero, sim, uma questão de outra geração, mas falando como alguém que tem um passado de imigrante, onde a ideia de servência da mulher era mais forte, acho revolucionário. Pensando em mim mesma como uma mulher de meia idade, sinto que minha independência ainda é pautada por aprender constantemente como me colocar, me expor, entender o que é poder e qual é o meu.
MC: Como você enxerga essa busca por independência nos dias de hoje, quando a maioria das mulheres é incentivada a estudar, trabalhar e lutar por seus direitos?
SO: Eu reconheço que estou em um lugar muito privilegiado da sociedade. E, mesmo assim, posso te dizer que ainda é uma grande luta interna. O que eu acho mais incrível em movimentos como #MeToo e Time’s Up é que eles incentivam mulheres a lidarem com suas próprias lutas internas e então falarem por si próprias, encontrarem sua própria força. Eu ainda estou trabalhando nisso.
MC: Que tipo de obstáculos você enfrentou no início da carreira?
SO: Os mesmos que toda artista jovem: ser reconhecida, conseguir papéis. Mas, claro, se você não é branco e se você não é homem, você vai, sem dúvida alguma, carregar o peso de tanto o seu sexo como a sua raça dificultarem seu acesso aos mais diversos papéis.
MC: Em quem você se inspirava no começo?
SO: Essa pergunta é um pouco complexa porque havia pouquíssimas atrizes [asiáticas] para me inspirar no começo. Eu admirava as atrizes negras porque eu pensava: “Elas são como eu. Não exatamente, mas um pouco como eu”. Então eu me inspirava em Angela Bassett em termos de atuação, em Yoko Ono como artista, como ícone. Havia muitas pessoas que eu admirava, mas poucas com que eu me identificava.
MC: O que podemos esperar da segunda temporada de Killing Eve?
SO: É muito, muito mais obscura. Você vê que Eve está tentando estar mais no controle, mas as coisas não estão dando muito certo para ela nesse aspecto.