Ser uma criança negra

Quantos lideres negros nós conhecemos? Joaquim Barbosa, Barack Obama, Mandela, Martin Luter King e etc. Para um homem e uma mulher negra citar essas pessoas como referência é algo simples. Mas quanto, uma criança negra? Qual é a sua referência na infância? Bem, seus pais primeiramente. E, se pensarmos em algo como heróis de desenho animado ou apresentadores infantis, não tem. A criança para construir uma personalidade, consome influências de todos os meios. A criança negra é órfã dessas influências, pois seu semelhante racial é pouco ou nunca exposto em revista de quadrinhos, desenho animado, séries infantis ou comercial de tv.

Por Andréia Ribeiro

@PIXABAY/Nappy.com

Por exemplo, eu menina negra, estudante de colégio público, uma vez me chamaram de Benedita, na sala de aula. Aos 10 anos, me deparei pela primeira vez com o preconceito – ser chamada de Benedita defini ser uma senhora, feia e bem negra – daí, um professor ao ver a situação, me pegou pelo braço e disse “ Não chore, sabe quem é Benedita? Uma mulher negra como você, sim e que está no poder como Governadora do Estado do Rio de Janeiro. Você deve ter orgulho. Ela é um mulher negra, pobre e que hoje alcançou um cargo no poder político de muita importância e responsabilidade”. Com isso, tive minha primeira referência.

A vergonha não era de ser uma criança negra, mas sim dos estereótipos preconceituosos e negativos, que terceiros me relacionavam por conta de ser negra.  Mas a partir de um preconceito e a sabedoria de um educador percebi a importância da minha raça. A história de luta nos afrodescendentes e a abolição da escravidão, no Brasil.

Eu tive a sorte de ter um profissional docente para me educar e orientar. Mas quantas crianças negras, meninas e meninos passam por isso todos os dias?

Um menino de Novo Iguaçu recentemente, teve seu desenho (Turma da Mônica), publicado nas redes sociais. O diferencial foi ter pintado um dos personagens de marrom – como se houvesse um personagem negro – e o aluno deixou claro em entrevista ao jornal Extra, que sente falta de representantes com o mesmo tão de sua pele.

Eu aos 22 anos, não acho fácil discutir sobre o racismo que ainda existe. Aos 10 anos, se defender era quase impossível. Após 12 anos vejo, mais um menino negro, de colégio público, Cleidison de Sena Coutinho, de 10 anos, com a mesma carência que eu tinha.

Essa é mais uma história, de um garoto negro sem representatividade da raça negra na infância. Nessa, fase de descobertas e formação é importante os pais estarem sempre presentes, para ser base para seus filhos. Responder e orientar sobre o racismo. Porquê o preconceito racial é crime, e muitas crianças ficam com depressão por conta da não aceitação das outras crianças.

Quando isso irá mudar?

 

 

 

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Fonte: O Patrono Online

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