Em pouco mais de um ano, Projeto WinnieTeca já despachou cerca de mil exemplares Brasil afora
“Sabe o que seria legal no dia da Consciência Negra? Você, branco privilegiado que se diz antirracista, comprar um livro que um negro precisa e enviar para ele.” Era 20 de novembro de 2018. Nascia assim, com um post no Twitter, o projeto WinnieTeca.
Idealizado pela gaúcha Winnie Bueno, 31 anos, a proposta é tão simples quanto genial — conecta quem precisa de um livro a quem se dispõe a doar. Uma espécie de “Tinder de livros”. Até o mês passado, o processo era manual. Com o apoio do Geledés Instituto da Mulher Negra e graças a uma parceria com o Twitter, o “match” agora está automatizado — basta acessar https://t.co/y3cNJxrTXU?amp=1.
Em pouco mais de um ano, cerca de mil exemplares já foram despachados Brasil afora. Bacharel em Direito e aluna de doutorado com tese sobre o pensamento da socióloga americana Patricia Hill Collins, Winnie sugere que os livros doados sejam novos. “Para quem não ganha nada, ganhar algo novo tem um significado importante”, diz. “E eu adoro o cheiro de livro novo.”
Assim como as madeleines transportavam o escritor francês Marcel Proust (1871-1922) para a juventude, a memória olfaltiva de Winnie a leva para a infância. À alfabetização com a avó materna, Eli, hoje com 90 anos, que só tem a quarta série, mas nunca parou de ler. Às obras que a mãe, Sandrali, psicóloga, trazia das reuniões do movimento negro. E a Joel Rufino dos Santos, autor de A Botija de Ouro, seu livro de criança, sobre uma escrava que, faminta, rói a parede da cela onde está presa e encontra um pote encantado.